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Artigos: Brasil
Raúl Castro quer conversar com EUA. Uma análise PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Sábado, 13 de Septiembre de 2014 10:57

Por Jorge Hernández Fonseca.-

Mais uma vez o ditador substituto cubano oferece “conversações” diretas aos Estados Unidos e outra vez mais o faz de maneira errada. Estados Unidos não tem por que estar interessado em discutir pontualmente o sistema político cubano, aspecto que na proposta de Raúl Castro se impõe como uma pré-condição. O que provavelmente interessa a Estados Unidos é mesma coisa que interessa ao povo de Cuba: que todos os cidadãos participem do sistema de governo da ilha, da mesma forma que faz o resto da América Latina, a cuja esfera pertence Cuba.

Realmente não sei como vai reacionar oficialmente o governo norte-americano ante esta proposta ‘rauliana’ de conversações, na qual se incluem pré-condições que provavelmente nada tem a ver com o interesse dos Estados Unidos. Não é que a potência do Norte exija ao ditador cubano um ou outro regime político. O que muito provavelmente interessaria aos EUA são seguridades que em Cuba haja respeito pela opinião de todo o povo e não só de uma minoria --o partido comunista cubano-- que governa sem liberdades hoje, contra tudo seu povo.

A ditadura de una elite (o partido comunista é declaradamente elitista, baseado na sua condição de vanguarda mínima que “dirige tudo o povo”, segundo estabelecem seus próprios estatutos) e isso não é mais possíveis admitir, não pela parte dos Estados Unidos, mas, pelo resto da população da ilha, inerme frente uma ditadura militar autoritária. Argumentos como o de Raúl Castro já tinha sido usado antes pelos líderes do “apartheit” na África do Sul, que insistiam à comunidade internacional para admitir seu regime de terror, baseado na mesma razão que agora esgrime o ditador substituto cubano: “há que respeitar as nossas opções (ditatoriais)”.

Por trás desta proposta de Raúl Castro esta o Brasil, insistindo na necessidade de uma “distensão” para que EUA levante o embargo econômico sobre Cuba e se iniciem os negócios do comércio entre Cuba y EUA usando o Porto de Mariel. Ali os brasileiros têm enterrado mais de mil milhões de dólares para tentar favorecer a ditadura castrista. Logicamente que não haverá negociações com estas precondições e Brasil terá que assimilar o golpe que significa ter entregado à ditadura cubana um dinheiro que não recuperará, nem agora com Raúl Castro impondo condições, nem posteriormente, quando a ditadura já não exista mais.

Há uma alternativa sobre a mesa, que o Brasil pode usar em seus contatos com a ditadura cubana: o Movimento Cristão de Libertação, MCL, tem proposto um plebiscito para consultar toda a população cubana (não aos Estados Unidos, como erradamente faz Raúl Castro) se é que quer continuar sob a bota dos irmãos Castro, ou se quer liberdade total para Cuba.

Estados Unidos deveria responder ao Raúl Castro que “não esta interessado no regime político que se queiram dar os cubanos; que estaria interessado que seja todo o povo cubano --de dentro e fora da ilha-- quem decida e não unicamente Raúl Castro, que nunca foi eleito de forma democrática na ilha, como têm sido com os governantes do resto da Latino-América”.

Uma opção esta nas mãos do atual governo brasileiro: convencer aos irmãos Castro que Cuba não é uma fazenda própria, mas, uma República onde seus cidadãos têm o direito a serem consultados. Brasil deveria promover ante Raúl e o Fidel –o ditador substituto e o ditador real-- a necessidade de uma consulta popular, universal, livre y supervisada: um plebiscito.

22 de Dezembro de 2013

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Última actualización el Sábado, 03 de Enero de 2015 13:47
 
A batalha de um homem só PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Lunes, 01 de Junio de 2015 11:52

Mario Vargas Llosa.-

Nos anos setenta teve lugar um extraordinário fenômeno de confusão política e delírio intelectual que levou um setor importante da inteligência francesa a apoiar e mitificar Mao e a sua “revolução cultural”, ao mesmo tempo que, na China, os guardas vermelhos faziam passar pelas forcas caudinas professores, pesquisadores, cientistas, artistas, jornalistas, escritores, promotores culturais, dos quais um bom número, depois de autocríticas arrancadas sob tortura, se suicidou ou foi assassinado. No clima de exacerbação histérica que, alentada por Mao, percorreu a China, destruíram-se obras de arte e monumentos históricos, cometeram-se abusos iníquos contra supostos traidores e contrarrevolucionários, e a milenar sociedade experimentou uma orgia de violência e histeria coletiva que resultou em cerca de 20 milhões de mortos.

Em um livro que acaba de publicar, Le Parapluie de Simon Leys (o guarda-chuva de Simon Leys), Pierre Boncenne descreve como, enquanto isso ocorria no gigante asiático, na França eminentes intelectuais, como Sartre, Simone de Beauvoir, Roland Barthes, Michel Foucault, Alain Peyrefitte e a equipe de colaboradores da revista Tel Quel. dirigida por Philippe Sollers, apresentavam “a revolução cultural” como um movimento purificador, que poria fim ao stalinismo, purgaria o comunismo da burocratização e do dogmatismo e instalaria a sociedade comunista livre e sem classes.

Um sinólogo belga chamado Pierre Ryckmans, que assinaria seus livros com o pseudônimo Simon Leys, até então desinteressado pela política – dedicou-se a estudar poetas e pintores chineses clássicos e a traduzir Confúcio –, horrorizado com o engodo em que sofisticados intelectuais franceses endeusavam o cataclismo que a China padecia sob a batuta do Grande Timoneiro, decidiu enfrentar aquele grotesco mal-entendido e publicou uma série de ensaios – incluindo Les Habits Neufs du Président Mao, Ombres Chinoises, Images Brisées, La Fôret en Feu – revelando a verdade do que ocorria na China e enfrentando, com grande coragem e conhecimento direto do tema, o endeusamento que faziam da “revolução cultural”, levados por uma mistura de frivolidade e ignorância, não isenta de certa estupidez, muitos ícones culturais da terra de Montaigne e Molière.

Os ataques de que Simon Leys foi alvo por atrever-se a ir contra a corrente e desafiar a moda ideológica reinante em boa parte do Ocidente, que Pierre Boncenne documenta em seu fascinante livro, dão vergonha alheia. Escritores de direita e de esquerda, nas páginas de publicações respeitáveis como Le Nouvel Observateur e Le Monde, cobriram-no de impropérios – entre os quais, obviamente, não faltou o de ser um agente e de trabalhar para os americanos –, e o que mais deve ter doído nele, por ser católico, foi que revistas franciscanas e lazaristas se negassem a publicar suas cartas e artigos explicando por que era uma ignomínia conservadores como Valéry Giscard d’Estaing e Jean d’Ormesson e progressistas como Jean-Luc Godard, Alain Badiou e Maria Antonietta Macciocchi considerarem Mao o “gênio indiscutível do século vinte” e “o novo Prometeu”. Nunca foi tão certa como naqueles anos a frase de Orwell: “O ataque consciente e deliberado contra a honestidade intelectual vem sobretudo dos próprios intelectuais”. Poucos foram os intelectuais franceses daqueles anos que, como um Jean-François Rével, mantiveram a cabeça fria, defenderam Simon Leys e se negaram a participar daquela farsa que via a salvação da humanidade na barafunda genocida da revolução cultural chinesa.

A silhueta de Simon Leys que emerge do livro do Pierre Boncenne é a de um homem fundamentalmente decente, que, contra sua vocação primeira – a de um estudioso da grande tradição literária e artística da China, fascinado pelas lições de Confúcio –, se vê empurrado a mergulhar no debate político em que, por sua limpeza moral, deve enfrentar praticamente sozinho uma corrente coletiva encabeçada por eminências intelectuais, para dissipar um emaranhado de mentiras que os grandes malabaristas da correção política tinham transformado em axiomas irrefutáveis. Terminaria por sair vitorioso daquele combate desigual, e o mundo ocidental acabaria aceitando que a “revolução cultural”, longe de ser o sobressalto libertador que devolveria ao socialismo a pureza ideológica e o apoio militante de todos os oprimidos, foi uma loucura coletiva, inspirada por um velho déspota que se valia dela para se livrar dos adversários dentro do próprio partido comunista e consolidar seu poder absoluto.

Leys se atreveu a desafiar a moda ideológica que imperava em boa parte de Ocidente

O que restou de tudo aquilo? Milhões de mortos, inocentes de toda índole sacrificados por jovens histéricos que viam inimigos do proletariado em toda parte, e uma China que, diametralmente oposta ao que queriam fazer dela os guardas vermelhos, é hoje uma sólida potência capitalista autoritária que levou o culto do dinheiro e do lucro a extremos vertiginosos.

O livro de Pierre Boncenne ajuda a entender por que a vida intelectual de nosso tempo foi empobrecendo e se afastando cada vez mais do resto da sociedade, sobre a qual agora quase não exerce influência, e que, confinada nos guetos universitários, monologa ou delira extraviando-se frequentemente em logomaquias pretensiosas desprovidas de raízes na problemática real, expulsas dessa história a que tantas vezes recorreram no passado para justificar alienações delirantes como esse fascínio pela “revolução cultural”.

Uma cultura na que as ideias importam pouco condena a sociedade ao fim do espírito crítico

Não há motivo para se alegrar com o desprestígio dos intelectuais e sua escassa influência na vida contemporânea. Porque isso significou a desvalorização das ideias e de valores indispensáveis como os que estabelecem uma fronteira clara entre a verdade e a mentira, noções que hoje andam confundidas na vida política, cultural e artística, algo perigosíssimo, pois a derrocada das ideias e dos valores, aliada à revolução tecnológica de nosso tempo, faz da sociedade totalitária fantasiada por Orwell e Zamiatin uma realidade possível em nossos dias. Uma cultura em que as ideias importam pouco condena a sociedade ao desaparecimento do espírito crítico, essa vigilância permanente sobre o poder, sem a qual toda democracia corre o risco de desmoronar.

É preciso agradecer a Pierre Boncenne por ter escrito essa reabilitação de Simon Leys, exemplo de intelectual honesto que nunca perdeu a vontade de defender a verdade e diferenciá-la das mentiras capazes de distorcê-la ou aboli-la. Já no livro que dedicou a Revel, Boncenne tinha demonstrado seu rigor e sua lucidez, que agora confirma com seu último ensaio.

EL PAIS; ESPANHA

 
Podemos, a FIFA e a Filarmônica de Berlim PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Lunes, 01 de Junio de 2015 11:55

Por Moises Naim.-

É parecido com a eleição do Papa. Os 123 músicos da Orquestra Filarmônica do Berlim, talvez a melhor do mundo, se reúnem em lugar isolado e secreto, entregam seus celulares e votam para escolher seu diretor, sucessor de Herbert von Karajan, Claudio Abbado e outras luminárias que seguraram a batuta nessa instituição. Neste conclave secreto, os músicos votam tantas vezes quantas forem necessárias até que um dos candidatos alcance uma maioria significativa. Há algumas semanas, e pela primeira vez desde 1882, os músicos não conseguiram chegar a um acordo. Sua fragmentação impossibilitou a eleição do substituto do diretor atual, sir Simon Rattle, e assim, imitando um costume do Congresso dos EUA, decidiram adiar a decisão para o próximo ano. “Os músicos de Berlim orquestram o fim da autocracia”, escreveu a crítica Shirley Apthorp, acrescentando: “A era do autocrata terminou; até orquestras menos democráticas que a de Berlim querem ter mais influência sobre seu destino. O estilo absolutista de Herbert von Karajan já não tem lugar em uma sociedade igualitária”.

Essa afirmação é perfeitamente aplicável a muitos âmbitos da atividade humana. Inclusive à Fifa, por exemplo. Alguém duvida que estejamos vendo o final da forma corrupta, opaca e autoritária como funcionou até agora a organização que dirige o futebol no mundo? Por mais que Sepp Blatter, o hábil ditador “democraticamente eleito” da Fifa, continue atuando como sempre fez (e até consiga ser reeleito!), o fim de sua liderança é tanto óbvio como inevitável.

Isso não está ocorrendo só na música ou no futebol. Nas últimas semanas, os resultados das eleições no Reino Unido, na Espanha e na Polônia reconfiguraram a ordem política desses países. O Partido Nacionalista Escocês, no Reino Unido, e os partidos Podemos e Cidadãos, na Espanha, irromperam no cenário, tirando poder das legendas tradicionais. Na Polônia, Andrzej Duda, um candidato relativamente desconhecido até recentemente, derrotou o presidente Bronislaw Komorowski. Em todos esses casos, os especialistas e os institutos de pesquisa se viram surpreendidos pelos resultados.

Algo parecido ocorre no mundo do dinheiro e dos negócios. A revista Fortune está para publicar sua famosa lista das 500 maiores empresas dos Estados Unidos. Nada menos que 57% das companhias que estão este ano na lista não apareciam em 1995. A rotatividade é ainda maior nas classificações das maiores empresas do mundo. Há cada vez mais empresas de países emergentes –especialmente da China –, assim como de setores de negócios que até poucos anos não existiam. Enquanto a Alibaba, a empresa chinesa de comércio eletrônico fundada em 1999, tem um valor de 224 bilhões de dólares (711 bilhões de reais), muitas das companhias europeias ou norte-americanas que antes dominavam seus mercados desapareceram da lista. A Kodak, por exemplo.

O mesmo está ocorrendo com a lista das pessoas mais ricas. Apenas 10% dos norte-americanos que em 1982 estavam na lista da revista Forbes continuavam nela em 2012. É interessante destacar que obtendo simplesmente um rendimento de 4% ao ano sobre seu capital, a grande maioria dos ricos de 1982 teria continuado na lista 30 anos depois. Mas eles não o obtiveram. Quem os substituiu? Os asiáticos.

O Relatório dos Bilionários de 2015 publicado recentemente pela UBS/PwC mostrou que um crescente número de pessoas com fortuna superior a um bilhão de dólares reside e trabalha na Ásia. Dos 1.300 super-ricos incluídos no relatório, 66% não herdaram sua fortuna – eles a construíram. Há duas décadas, a situação era inversa: 57% dos ricos do mundo estavam nessa categoria porque haviam herdado um grande capital. E até 1980, indica o relatório, a grande maioria dos bilionários se concentrava nos Estados Unidos e na Europa. Agora não. Em 2015, 36% dos super-ricos que não herdaram sua riqueza são asiáticos. Apenas 17% são europeus. E 47% residem nos EUA.

A grande surpresa não é que todas essas coisas estejam ocorrendo. O mais surpreendente é a frequência com que os líderes tradicionais da política, da economia, dos esportes ou das artes acreditam que podem continuar se comportando como sempre fizeram. Blatter, o chefe da Fifa, é um bom exemplo disso. Depois de sua reeleição, uma bofetada nas pessoas decentes do mundo, Blatter disse: “Não precisamos de revoluções, precisamos de evoluções. E eu consertarei a Fifa”. Não. Ele não a consertará. Os que a consertarão serão os fiscais e juízes norte-americanos que mandarão para a prisão os corruptos desse organismo. E essa é a revolução da qual Blatter tenta se salvar.

EL PAIS; ESPANHA

No Twitter: @moisesnaim

 
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Escrito por Indicado en la materia   
Martes, 05 de Mayo de 2015 01:34

Por Fernando Henrique Cardoso.-

Eu preferiria não voltar ao tema arqui-batido das crises que nos alcançaram. Mas é difícil. Vira e mexe, elas atingem o bolso e a alma das pessoas. Na última semana, o início de recessão repercutiu fortemente sobre a taxa de desemprego. Considerando apenas as seis principais metrópoles, ela atingiu 6,2%, a maior taxa desde 2001. A Petrobras, ao tentar virar uma página de sua história recente, pôs em evidência que o “propinoduto”, enorme (seis bilhões de reais), é incomparavelmente menor do que o “asnoduto”, dos projetos megalômanos e mal feitos: 40 bilhões de reais. São cifras casadas, pois quanto piores ou mais incompletos os projetos de obras, mais fácil se torna aumentar seu custo e desviar o dinheiro para fins pessoais ou partidários.

O setor elétrico foi vítima de males semelhantes (só à Petrobras as “pedaladas” da Eletrobrás custaram 4,5 bilhões de reais) e não é o único setor no qual os desmandos vêm se tornando públicos. Se algum dia se abrirem as contas da Caixa Econômica, vai-se ver que o FGTS dos trabalhadores deu funding para uma instituição bancária pública fazer empréstimos de salvamento a empreendimentos privados quebrados. No caso do BNDES, a despeito da competência de seus funcionários, emprestou-se muito dinheiro a empresas de solvabilidade discutível, também com recursos do FAT, ou seja, dos trabalhadores (ou dos contribuintes), oriundos do Tesouro.

No afã de “acelerar o crescimento” usando o governo como principal incentivo, as contas públicas passaram a sofrer déficits crescentes. Pior, dada a conjuntura internacional negativa e o pouco avanço da produtividade nacional, também as contas externas apresentam índices negativos preocupantes quando comparados com o PIB brasileiro (cerca de 4%, com viés de alta). Pressionado pelas circunstâncias o Governo atual teve que entregar o comando econômico a quem pensa diferente dos festejados (pelos círculos petistas e adjacentes) autores da “nova matriz econômica”. Esta teria descoberto a fórmula mágica da prosperidade: mais crédito e mais consumo. O investimento, ora, é consequência do consumo... Sem que se precisasse prestar atenção às condições de credibilidade das políticas econômicas.

Não haverá milagre econômico sem transformação política".

As consequências estão à vista: chegou a hora de apertar os cintos. Como qualquer governo responsável – antes se diria, erroneamente, neoliberal – o atual começou a cortar despesas e restringir o crédito. Há menos recursos para empréstimos, mais obras paradas, maior desemprego, e assim vamos numa espiral de agruras, fruto da correção dos desacertos do passado recente. Para datar: essa espiral de enganos começou a partir dos dois últimos anos do governo Lula. Agora, na hora da onça beber água, embora sem reconhecer os desatinos, volta-se ao bom senso. Mas, cuidado, é preciso que haja senso. Ajuste fiscal, às secas, sem confiança no Governo, sem horizontes de crescimento e, pois, com baixo investimento, é como operação sem anestesia. Pior: política econômica requer dosagem e nem sempre os bons técnicos avaliam bem a saúde geral do país.Também o cavalo do inglês aprendeu a não comer; só que morreu.

Não quero ser pessimista. Mas o que mais falta faz neste momento é liderança. Gente em quem a gente creia, que não só aponte os caminhos de saída, mas comece a percorrê-lo. Não estou insinuando que sem impeachment não há solução. Nem dizendo o contrário, que impeachment é golpe. Estou apenas alertando que as lideranças brasileiras (e escrevo assim no plural) precisam se dar conta de que desta vez os desarranjos (não só no plano econômico, mas no político também) foram longe demais. Reerguer o país requer primeiro passar a limpo os erros. Não haverá milagre econômico sem transformação política. Esta começa pelo aprofundamento da operação Lava Jato, para deixar claro por que o país chegou aonde chegou. Não dispensa, contudo, profundas reformas políticas.

Os diretores da Petrobras envolvidos na roubalheira devem ser penalizados, mas não foram eles os maiores responsáveis. Quem enganou o Brasil foi o lulo-petismo".

Não foram os funcionários da Petrobras os responsáveis pela roubalheira (embora alguns nela estivessem implicados). Nenhuma diretoria se mantém sem o beneplácito dos governos, nem muito menos o dinheirão todo que escapou pelo ralo foi apropriado apenas por indivíduos. Houve mais do que apadrinhamento político, construiu-se uma rede de corrupção para sustentar o poder e seus agentes (pessoas e partidos). Não adianta a Presidente dizer que tudo agora está no lugar certo na Petrobras. É preciso avançar nas investigações, mostrar a trama política corrupta e incompetente. Não foi só a Petrobrás que foi roubada, o país foi iludido com sonhos de grandeza nacional enquanto a roubalheira corria solta na principal companhia estatal do país.

Quase tudo que foi feito nos últimos quatro mandatos foi anunciado como o “nunca antes feito neste país”. É verdade, nunca mesmo se errou tanto em nome do desenvolvimento nacional nem jamais se roubou tanto sob a proteção desse manto encantado. Embora os diretores da Petrobras diretamente envolvidos na roubalheira devam ser penalizados, não foram eles os responsáveis maiores. Quem enganou o Brasil foi o lulo-petismo. Lula mesmo encharcou as mãos de petróleo como arauto da falsa autossuficiência. E agora José? Não há culpabilidade política? Vai-se apelar aos “exércitos do MST” para encobrir a verdade?

É por isso que tenho dito que impeachment é uma medida prevista pela Constituição, pela qual não há que torcer, nem distorcer: havendo culpabilidade, que se puna. Mas a raiz dos desmandos foi plantada antes da eleição da atual presidente. Vem do governo de seu antecessor e padrinho político. O que já se sabe sobre o Petrolão é suficientemente grave para que a sociedade repudie as forças e lideranças políticas que teceram a trama da qual o escândalo faz parte. Mas é preciso que a Justiça não se detenha antes que tudo seja posto às claras. Só assim será possível resgatar os nossos mais genuínos sentimentos de confiança no Brasil e no seu futuro.

EL PAIS; ESPANHA

 
A diplomacia americana do Papa PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Domingo, 03 de Mayo de 2015 11:34

Por .-

Não deveria surpreender que o papa Francisco tenha se transformado num protagonista da política latino-americana. O Vaticano confirmou que em setembro, antes de pisar os Estados Unidos, ele visitará Cuba. Como dizem seus amigos, pretende “examinar a criatura”. O restabelecimento de relações diplomáticas entre Havana e Washington, que foi negociado na Santa Sé, é sua iniciativa diplomática mais relevante no próprio continente.

Mas a escala cubana vai além desse significado. Será também um contraponto do giro norte-americano, indispensável para alguém que, como Jorge Bergoglio, vive projetando simetrias conceituais ou simbólicas. O encontro com Fidel e Raúl Castro será, além do mais, uma aproximação oblíqua a dois fenômenos que inquietam a América Latina: a fratura política venezuelana e as hesitações do diálogo com as FARC, na Colômbia. Nessa perspectiva, a viagem à ilha pode ser vista como a última etapa de outro itinerário: aquele que, em julho, levará o Papa ao Paraguai, Bolívia e Equador.

A crise venezuelana é observada por Roma, como por Washington, com muitíssima cautela

Bergoglio interessou-se por Cuba desde muito antes de ser papa. Em 1998 escreveu Diálogos entre João Paulo II e Fidel Castro, analisando a visita que seu antecessor realizara em janeiro daquele ano. O livro é premonitório de sua estratégia atual. Ali celebrou “a vontade de conceder que demonstrou Fidel Castro” com a libertação de presos políticos, e “a inclinação papal a promover o levantamento de barreiras impostas a Cuba pelos superpoderes”.

O então arcebispo de Buenos Aires expôs nesse trabalho as ideias que repetirá em sua viagem: enfatizou a crítica de João Paulo II “ao modelo de Estado moderno que pretende amparar-se no ateísmo ou em motivações pseudoreligiosas para enunciar seus ordenamentos políticos, como aqueles outros que adotam uma forma de neoliberalismo capitalista, modelo no qual se submete o ser humano (…) à força pura do mercado”.

Bergoglio nunca simpatizou com o liberalismo secularizante. Tampouco com a esquerda revolucionária. O peronismo, que se sonhou como uma “terceira posição”, ofereceu-lhe uma saída para esses receios. Fora da Argentina, é mais difícil que encontre uma solução para seu dilema.

A viagem do papa Wojtyla foi preparada por quem havia sido seu núncio em Cuba, Beniamino Stella. Na quinta-feira passada, transformado em cardeal, Stella retornou à ilha para organizar a nova visita. Em 1998, o regime castrista estava ameaçado pelo desaparecimento da União Soviética. Agora sofre a crise da economia venezuelana. Em ambas as ocasiões o Vaticano ajudou os Castro a evitar uma rendição. Desta vez existe uma afinidade adicional: Fidel e Raúl foram formados por jesuítas como Bergoglio.

A etapa boliviana é a que provoca maior expectativa

Stella tem uma missão em Havana: conseguir que na visita de Francisco seja consagrada a liberdade religiosa na ilha.

É possível que na chegada de Francisco exista em Havana uma embaixada norte-americana. Ao retornar da Cúpula do Panamá, Barack Obama informou o Congresso que removerá Cuba da lista de nações que apoiam o terrorismo. Para levantar o embargo, ele necessitaria de uma lei para a qual hoje não tem votos. Os Castro também ficarão na metade de caminho. Raúl pensa governar até que, em 2018, o partido único escolha um sucessor que dirija o país durante cinco anos. Os direitos civis e políticos serão ampliados? Muito pouco. O regime se olha no espelho chinês.

Entre o Vaticano e Washington existem outras coordenações. Em um gesto incomum, em março Obama designou Bernard Aronson como enviado para o processo de paz colombiano, que se negocia em Havana. Lá, Aronson se reuniu com os delegados do presidente Juan Manuel Santos, mas também com as FARC, apesar de que seu país a considere uma organização terrorista. O Vaticano, por seu lado, anunciou uma visita papal à Colômbia em 2016. Santos se arriscou a dizer que quando Francisco chegar a Bogotá a paz talvez esteja assinada.

Por outro lado, a crise venezuelana é observada por Roma, como por Washington, com muitíssima cautela. Nicolás Maduro não conseguiu se comunicar com Bergoglio antes de viajar ao Panamá. Falou com o cardeal Antonio Parolin, o secretário de estado, que até 2013 foi núncio em Caracas. Parolin condenou as sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela, mas no Panamá recebeu os familiares dos presos políticos do chavismo. A Conferência Episcopal venezuelana está em conflito com Maduro. Principalmente desde que desprezou Parolin: logo que cessaram as mobilizações contra ele, ignorou a mediação da Igreja com a oposição.

Hoje Maduro sofre um isolamento delicado, que agudizou seu enfrentamento com a Espanha. Para o herdeiro de Chávez, a chegada de Felipe González a Caracas, no próximo mês, para participar da defesa de Leopoldo López e Antonio Ledezma, é algo insuportável. Como explicar que essa presença é parte de uma conspiração imperial contra o socialismo do século XXI? Os insultos contra González levantaram uma onda inconveniente para Maduro: Fernando Henrique Cardoso, Julio María Sanguinetti e Ricardo Lagos, três líderes que são uma referência para toda a região, saíram em defesa do ex-presidente da Espanha. Foi um “por que não se cala”, mas em versão coral.

A Igreja não quer se prejudicar na imprevisível fogueira chavista. Para enfrentar essa crise, Francisco recorrerá ao seu método favorito: a aproximação indireta. Em 6 de julho inicia uma excursão pela América Latina. Como é a primeira organizada por ele, leva seu selo: a predileção pelas periferias. Viajará ao Paraguai, Bolívia, Equador. Com Evo Morales e com Rafael Correa, amigos de Maduro, falará da Venezuela.

A etapa boliviana é a que provoca maior expectativa. Em janeiro, saindo do Vaticano, Morales revelou que Francisco havia lhe pedido antecedentes sobre a reclamação da Bolívia ao Chile pela saída marítima. Para os chilenos foi quase um terremoto. O governo socialista fez gestões para evitar que a Igreja se somasse à campanha de Morales, que pretende resolver o conflito na Corte de Justiça de Haia.

O esforço do Chile deu resultados. O Papa receberá Michelle Bachelet em 5 de junho. Paixão pela simetria.

EL PAIS; ESPANHA

 
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