EUA deve levantar o embargo em troca de una apertura política em Cuba |
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Domingo, 27 de Julio de 2014 16:26 |

Por Jorge Hernández Fonseca.-
Ate o mais ingênuo opositor à ditadura castrista sabe que Estados Unidos não vai levantar o embargo sem que os irmãos Castro paguem o preço que ele implica. Por que, por exemplo, o regime cubano insiste que para libertar ao norte-americano Alán Gross preso em Cuba, EUA deve “reciprocar” libertando os três espiões cubanos presos em Norte-américa, porém, com o embargo pede sua eliminação “unilateral” sem “reciprocar” nem dar nada em troca?
EUA deve levantar o embargo em troca de una apertura política em Cuba
Jorge Hernández Fonseca
26 Julho de 2014
O embargo norte-americano que pesa sobre Cuba tem sido um tema de debate, argumentação e divisão dentro da oposição política cubana ao regime dos irmãos Castro: “Não tem atingido seus objetivos”; “É uma justificativa para o castrismo”; “Não é um problema cubano”; “É um remanente da guerra fria”; “Levantá-lo levará um câmbio positivo dentro da ilha”; “É a causa da deplorável situação econômica cubana”; “Sem o embargo Cuba seria um paraíso”; “O embargo é ingerencista”; “O embargo implica num ‘bloqueio’ a Cuba”, entre outros pontos de vista, muitos deles carimbados pelo castrismo, outros por opositores honestos.
Os enunciados anteriores --todos-- implicam sempre meias verdades, precisamente para serem críveis, mas, em nenhum dos casos são verdades absolutas. Sob o embargo Cuba passou os longos anos do subsidio soviético (desde a década dos 60 até inícios dos 90) sem ser mencionado pelo oficialismo, mas, quando a subvenção “companheira” acabou, a propaganda oficial ressuscitou-o “de entre os mortos”. Na realidade os opositores cubanos --sejam quais foram seus critérios sobre esta medida de EUA respeito a Cuba-- podem entender que o embargo é uma importante ferramenta de negociação dos EUA com o castrismo, agora que a Cuba dos irmãos Castro finalmente levanta bandeira branca ante “o inimigo do norte”.
Ate o mais ingênuo opositor à ditadura castrista sabe que Estados Unidos não vai levantar o embargo sem que os irmãos Castro paguem o preço que ele implica. Por que, por exemplo, o regime cubano insiste que para libertar ao norte-americano Alán Gross preso em Cuba, EUA deve “reciprocar” libertando os três espiões cubanos presos em Norte-américa, porém, com o embargo pede sua eliminação “unilateral” sem “reciprocar” nem dar nada em troca?
Um grupo de exitosos empresários cubano-americanos tem pedido diretamente ao presidente norte-americano Barack Obama o levantamento das limitações financeiras, econômicas e comerciais que EUA mantém respeito à Havana. É um direito destes empresários fazer tal solicitação na área econômica, de parte do executivo norte-americano –área na qual eles têm-se desenvolvido. Pela mesma razão --e com o mesmo direito-- políticos opositores cubanos devem pedir ao governo norte-americano negociar com os irmãos Castro o levantamento do embargo, em troca de uma apertura política, também na área na qual eles se desenvolvem.
Estamos ante uma realidade de conversações --já em andamento -- entre a União Européia e a Cuba dos irmãos Castro. De igual maneira, se aproximam negociações entre EUA e os representantes de Fidel y Raúl. Porém, não haverá conversações entre a ditadura cubana e os opositores políticos (como deveria ser). Este diálogo não acontecerá porque, da parte da oposição será trair a memória das lutas contra os opressores, e da parte da ditadura cubana não há vontade política. São duas as razões básicas para que o diálogo não aconteça: primeiro, a ditadura não quer diálogo com os opositores cubanos (prefere dialogar com “o inimigo externo”) e as poucas vezes que tem conversado com opositores cubanos, tem acontecido um monólogo; segundo, porque o diálogo somente se produz quando ambos adversários estão convencidos que do diálogo surge uma melhor posição para ambas as partes, e este não é o caso agora, nem da ditadura castrista, nem da oposição política democrática digna, que entende o diálogo com o opressor, nas atuais circunstâncias, como uma forma de traição.
No caso específico de EUA --e ante o avance das influências conjuntas de Rússia e China dentro de Cuba-- e procurando ademais lesionar os interesses norte-americanos em todo o nosso hemisfério oferecendo créditos e investimentos em Latino-américa, EUA deve tomar providencias urgentes para definir uma política exterior pro ativa respeito a Cuba e à intromissão da China y da Rússia no nosso Sub Continente tudo, saindo da inércia atual.
Assim as coisas, é claro que a oposição política cubana deve exercer a maior e melhor de suas influências, tanto dentro da União Européia (onde tem pouca influencia real) como frente ao governo atual de EUA, fornecendo seus argumentações para que sejam analisadas pelas grandes potências, visando que sejam utilizadas nas conversações com Cuba.
Um grupo de opositores cubanos já têm ido à Europa (Madrid) para falar sobre as futuras negociações Europa-Cuba e recentemente foram de novo em Espanha para tratar de influir nos negociadores europeus. Os interesses cubanos e os interesses da UE e EUA devem coincidir nos pedidos que sejam feitos. Não é o caso de incluir opositores cubanos em delegações estrangeiras, ou incluir uma ‘parte cubana’ (opositora) em negociações onde não têm sido convidados. O correto seria propor elementos de negociação à Europa y aos EUA de beneficio, tanto aos cubanos em geral, como para europeus e norte-americanos, com argumentos que sejam aceitáveis (e evidentes) para toda a comunidade internacional.
Os EUA pela sua parte têm no levantamento do embargo a carta de negociação que os europeus perderam renunciando à sua “posição comum”. Isso deve ser aproveitado de conjunto com a real e atual influencia que o exílio cubano possui dentro dos EUA sobre as decisões do executivo e o legislativo norte-americano, estruturando argumentos para que EUA não entregue sua mais importante carta de negociação --o embargo-- sem pedir ao castrismo uma apertura política em troca. Desta maneira, o executivo de EUA colocaria em crise a posição cubana de não abrir-se politicamente, na certeza que o mundo exterior vai ver a proposta com muitos bons olhos e aprovaria a lógica de que, em todas as negociações “há que dar para receber”. Adicionalmente, o pedido de apertura política estaria muito em fase com a cultura política latino-americana atual, já que ate em regimes como o “chavismo” venezuelano, o “evismo” boliviano y o “correismo” equatoriano, há eleições com vários partidos.
Não creio que os opositores cubanos devam pedir agora diálogo com os irmãos Castro; mas, já que as conversações vão-se produzir entre Cuba e seus aliados democráticos (EUA y a UE), acredito que os opositores devem pôr toda a sua força em convencer aos EUA y à UE (ambos democratas e livres) da necessidade de obrigar à ditadura cubana para atuar em função da cultura democrática mundial atual, para que permita uma apertura política dentro da ilha.
O povo cubano tem executado uma longa e constante luta pela suas liberdades democráticas neste mais de meio século. Nada mais lógico que agora as potencias que negociarão seus interesses com a ditadura, incluam nas suas negociações a necessidade do acesso dos cubanos ao seus diretos políticos cancelados sem razão nenhuma, sobre tudo, quando a ditadura se dispõe a negociar com “o inimigo”, deve verse obrigada dar liberdades ao seu povo.
Para a apertura política (pouca ou muita) que seja conseguida neste processo em mãos de aliados democráticos (se é que convencemos à UE y aos EUA --e se conseguimos a apertura política nas conversações--) toda a oposição cubana deve estar preparada para dar a batalha pacífica dentro da ilha no terreno cívico. A ditadura também se prepara para esta nova fase --que sabe inevitável da luta-- y já monta seus “partidos políticos opositores” amanhados.
O novo campo de ações que nasce de uma situação como a descrita, será gradual, porque não haverá uma derrota contundente e imediata do castrismo, mas, seguramente haverá oportunidades que o nosso povo vai aproveitar junto à oposição democrática, para superar este pesadelo de demasiados anos de opressão, repressão y divisão da Nação Cubana.
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Última actualización el Jueves, 14 de Agosto de 2014 12:42 |
Uma nova ponte entre a China e a América Latina |
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Escrito por Indicado en la materia
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Jueves, 17 de Julio de 2014 13:28 |
Por Luis Alberto Moreno.-
Esta semana o presidente da China, Xi Jinping, iniciou uma viagem oficial por Brasil, Argentina, Venezuela e Cuba em sua segunda visita à América Latina em pouco mais de um ano. Em junho de 2013, ele esteve em Trindade e Tobago, Costa Rica e México antes de se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Califórnia. Essa é uma clara evidência de que a relação entre China e América Latina navega por novas águas.
Durante séculos, essa relação teve como marco o oceano Pacífico, uma ponte entre ambas as regiões. Na época colonial, galeões espanhóis navegavam entre Acapulco e Manila, transportando produtos asiáticos e americanos. No século XIX, dezenas de milhares de chineses chegaram às nossas costas para trabalhar na construção de canais e ferrovias, plantações de açúcar e minas de guano e salitre. Outras ondas migratórias ocorreriam durante o violento século XX.
A presença chinesa deixou marcas profundas em nossa cultura, desde as artes culinárias até a paisagem urbana. Há bairros chineses em muitas das grandes cidades de nosso continente, e a influência de personalidades com ascendência chinesa se tornou notável no setor acadêmico, nas artes e no serviço público.
A presença chinesa deixou marcas profundas em nossa cultura, desde as artes culinárias até a paisagem urbana
Atualmente, o Pacífico continua sendo uma rota de comércio, mas em uma escala inédita, porque, hoje, mais de 40% do intercâmbio global de mercadorias cruza suas águas.
Desde o ano 2000, o intercâmbio comercial entre a China e a América Latina cresceu 23% ao ano, uma taxa impressionante. A China é, hoje, o primeiro destino das exportações de Brasil, Chile e Peru. A economia do país asiático consome 40% de todo o cobre exportado no mundo, 47% do ferro e 53% da soja.
Um dos motores da demanda chinesa por matérias primas foi sua rápida urbanização, em uma escala sem precedentes. Nos últimos 35 anos, mais de 560 milhões de pessoas mudaram do campo para cidades, quase o equivalente a toda a população da América Latina.
Em março, as autoridades chinesas oficializaram um plano nacional de urbanização com o objetivo de elevar a população das cidades para 60% do censo total até 2020. Isso implica um aumento de 100 milhões de pessoas que viveriam no espaço urbano: mais gente que a soma dos habitantes de Lima, São Paulo, Cidade do México, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Bogotá e Santiago. O investimento estimado é de 6,8 trilhões de dólares (15 trilhões de reais), em todo tipo de infraestrutura urbana.
Esta decisão representa uma enorme oportunidade para a América Latina. Em primeiro lugar, porque os investimentos massivos em infraestrutura se traduzirão em uma demanda constante por matérias primas latino-americanas. Em segundo lugar, porque o aumento do poder aquisitivo das famílias urbanas chinesas abre possibilidades de diversificar nossas exportações com produtos de maior valor agregado.
O Pacífico será mais do que uma via de navegação para navios de carga: será uma ponte para intercambiar ideias
Esta nova visita do presidente Xi também indica que a relação entre China e América Latina deixará de ser exclusivamente comercial. Hoje, todos sabemos, com clareza, que o caminho para o desenvolvimentos sustentável passa pelo conhecimento, pela inovação, pela proteção do meio ambiente e por melhorias educativas e institucionais, além da necessidade de grandes investimentos em infraestrutura.
A primeira ponte entre a China e a América Latina foi o comércio. O desafio atual é maior: devemos construir uma ponte para as ideias.
Neste aspecto, o Banco Interamericano de Desenvolvimento tem a vocação e a experiência para canalizar esse diálogo. Esta semana, promoveremos em Lima, junto com o Governo do Peru e a Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS), a Cúpula China-América Latina de Políticas e Conhecimento. O encontro reunirá ministros ligados à área de habitação de Brasil, Chile, Equador e Peru, com autoridades do governo e acadêmicos da China para fomentar o intercâmbio em um tema vital para as nossas sociedades: a expansão urbana.
Temos muitos desafios em comum: em 2020, tanto na China como na nossa região, haverá sete megalópoles com mais de 10 milhões de habitantes. Temos muitas experiências para compartilhar: a América Latina tem lições para tirar da cooperação público-privada e do planejamento nacional chinês, que coordena o crescimento das cidades com o desenvolvimento produtivo. A China poderia aproveitar algumas das soluções inovadoras que aplicamos para temas como a proteção social, os sistemas de transporte urbano e a melhoria dos bairros.
Esperamos que este diálogo seja mais um passo no caminho em direção a uma cooperação mais plena entre duas regiões com uma história de encontros. Assim, o Pacífico será mais do que uma via de navegação para navios de carga: será uma ponte para intercambiar ideias. E graças a este tipo de infraestrutura conseguiremos encurtar a distância que nos separa do desenvolvimento.
Luis Alberto Moreno é presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
INFOLATAM
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Domingo, 13 de Julio de 2014 12:10 |

Por Mário Vargas Llosa.-
Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.
Nada funcionava bem; havia algo forçado, artificial e antinatural nesse esforço, que se traduzia em um rendimento sem graça de toda a equipe, incluído o de sua estrela máxima, Neymar. Todos os jogadores pareciam sob rédeas. O velho estilo – o de um Pelé, Sócrates, Garrincha, Tostão, Zico – seduzia porque estimulava o brilho e a criatividade de cada um, e disso resultava que a equipe brasileira, além de fazer gols, brindava um espetáculo soberbo, no qual o futebol transcendia a si mesmo e se transformava em arte: coreografia, dança, circo, balé.
Os críticos esportivos despejaram impropérios contra Luiz Felipe Scolari, o treinador brasileiro, a quem responsabilizaram pela humilhante derrota, por ter imposto à seleção brasileira uma metodologia de jogo de conjunto que traía sua rica tradição e a privava do brilhantismo e iniciativa que antes eram inseparáveis de sua eficácia, transformando seus jogadores em meras peças de uma estratégia, quase em autômatos.
Não houve nenhum milagre nos anos de Lula, e sim uma miragem que agora começa a se dissipar
Contudo, eu acredito que a culpa de Scolari não é somente sua, mas, talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um fenômeno que, já há algum tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que é brutalmente desmentida por uma realidade profunda.
Tudo nasce com o governo de Luis Inácio 'Lula' da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências. As formidáveis estatísticas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística difundia eram aceitas por toda a parte: de 49 milhões os pobres passaram a ser somente 16 milhões nesse período, e a classe média aumentou de 66 para 113 milhões. Não é de se estranhar que, com essas credenciais, Dilma Rousseff, companheira e discípula de Lula, ganhasse as eleições com tanta facilidade. Agora que quer se reeleger e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes da catástrofe.
A verdade é que não houve nenhum milagre naqueles anos, e sim uma miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu com o futebol brasileiro. Uma política populista como a que Lula praticou durante seus governos pôde produzir a ilusão de um progresso social e econômico que nada mais era do que um fugaz fogo de artifício. O endividamento que financiava os custosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e dos atuais) à prisão e ao banco dos réus.
As alianças mercantilistas entre Governo e empresas privadas enriqueceram um bom número de funcionários públicos e empresários, mas criaram um sistema tão endiabradamente burocrático que incentivava a corrupção e foi desestimulando o investimento. Por outro lado, o Estado embarcou muitas vezes em operações faraônicas e irresponsáveis, das quais os gastos empreendidos tendo como propósito a Copa do Mundo de futebol são um formidável exemplo.
O governo brasileiro disse que não havia dinheiro público nos 13 bilhões que investiria na Copa do Mundo. Era mentira. O BNDES (Banco Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social) financiou quase todas as empresas que receberam os contratos para obras de infraestrutura e, todas elas, subsidiavam o Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder. (Calcula-se que para cada dólar doado tenham obtido entre 15 e 30 em contratos).
As obras da Copa foram um caso flagrante de delírio e irresponsabilidade
As obras em si constituíam um caso flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria FIFA, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que o protesto popular diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões publicitárias e eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às ruas e mexesse com todo o Brasil.
As cifras que os órgãos internacionais, como o Banco Mundial, dão na atualidade sobre o futuro imediato do país são bastante alarmantes. Para este ano, calcula-se que a economia crescerá apenas 1,5%, uma queda de meio ponto em relação aos dois últimos anos, nos quais somente roçou os 2%. As perspectivas de investimento privado são muito escassas, pela desconfiança que surgiu ante o que se acreditava ser um modelo original e resultou ser nada mais do que uma perigosa aliança de populismo com mercantilismo, e pela teia burocrática e intervencionista que asfixia a atividade empresarial e propaga as práticas mafiosas.
Apesar de um horizonte tão preocupante, o Estado continua crescendo de maneira imoderada – já gasta 40% do produto bruto – e multiplica os impostos ao mesmo tempo que as “correções” do mercado, o que fez com que se espalhasse a insegurança entre empresários e investidores. Apesar disso, segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as próximas eleições de outubro, e continuará governando inspirada nas realizações e logros de Lula.
Se assim é, não só o povo brasileiro estará lavrando a própria ruína, e mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre o qual está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da equipe de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos, primeiro com Lula e depois com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus netos irão pagar, quando tiverem de começar a reedificar a partir das raízes uma sociedade que aquelas políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento. É verdade que o Brasil tinha sido um gigante que começava a despertar nos anos em que governou Fernando Henrique Cardoso, que pôs suas finanças em ordem, deu firmeza à sua moeda e estabeleceu as bases de uma verdadeira democracia e uma genuína economia de mercado. Mas seus sucessores, em lugar de perseverar e aprofundar aquelas reformas, as foram desnaturalizando e fazendo o país retornar às velhas práticas daninhas.
Não só os brasileiros foram vítimas da miragem fabricada por Lula da Silva, também o restante dos latino-americanos. Por que a política externa do Brasil em todos esses anos tem sido de cumplicidade e apoio descarado à política venezuelana do comandante Chávez e de Nicolás Maduro, e de uma vergonhosa “neutralidade” perante Cuba, negando toda forma de apoio nos organismos internacionais aos corajosos dissidentes que em ambos os países lutam por recuperar a democracia e a liberdade. Ao mesmo tempo, os governos populistas de Evo Morales na Bolívia, do comandante Ortega na Nicarágua e de Correa no Equador – as mais imperfeitas formas de governos representativos em toda a América Latina – tiveram no Brasil seu mais ativo protetor.
Por isso, quanto mais cedo cair a máscara desse suposto gigante no qual Lula transformou o Brasil, melhor para os brasileiros. O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no futebol, como na política, é ruim viver sonhando, e sempre é preferível – embora seja doloroso – ater-se à verdade.
EL PAIS; ESPANHA
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Última actualización el Jueves, 17 de Julio de 2014 13:45 |
A periferia na televisão brasileira, entre a festa e a violência |
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Escrito por Indicado en la materia
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Domingo, 06 de Julio de 2014 11:28 |
Por Maria Eduarda da Mota Rocha.-
A imprensa internacional já se deu conta da discrepância entre a composição racial brasileira e os rostos que vemos pela TV nas arquibancadas dos estádios, durante os jogos da Copa. A julgar por essas imagens, os desavisados poderiam até pensar que o Brasil é um país de brancos.
Na verdade, a quase ausência de negros e mestiços nas arquibancadas dos estádios reproduz um fenômeno muito antigo: a invisibilidade dos pobres na televisão brasileira.
Até a década de 1970, a TV se voltava a um público quase exclusivamente composto pelas elites e classes médias altas. As tramas e ambientes da telenovela, por exemplo, tinham uma clara função pedagógica: dizer como deviam se comportar e consumir os membros daquelas classes, tanto os mais antigos quanto aqueles que ascendiam socialmente aproveitando-se dos postos de trabalho e oportunidades de negócio abertos pela intensa modernização capitalista do período.
A partir da redemocratização, no final dos anos 1970, os pobres ganharam um maior peso político, passando a contar como uma clientela importante nas eleições e a se organizar na forma de movimentos sociais urbanos, trabalhistas etc.
Mas foi em especial a queda da desigualdade de renda intensificada no começo do século XXI que trouxe definitivamente a periferia das grandes cidades brasileiras para dentro da televisão. O aumento do salário mínimo e as políticas de distribuição de renda abriram caminho para que classes sociais situadas mais abaixo na pirâmide passassem a contar como consumidoras importantes em mercados de imóveis, eletroeletrônicos, grandes redes de supermercado, alimentos industrializados etc.
O aumento do consumo popular reflete-se no mercado publicitário como demanda por produtos de mídia especificamente voltados a este público. A TV tem respondido a esta demanda, sobretudo, com programas policialescos, que retratam casos de violência ocorridos principalmente na periferia, e que estigmatizam os moradores destes lugares diante de outros públicos e de si próprios. Tratando a violência em chave melodramática, tais programas baseiam-se nas figuras da "vítima" e do "bandido" como tipos extremos, a bondade e a maldade em sua pureza. Desta forma, moralizam um tema que precisa ser analisado sociologicamente e atacado politicamente: as formas pelas quais a violência se reproduz dia após dia, assentada em condições sociais, econômicas, políticas e culturais profundas.
Mais recentemente, uma outra chave de representação dos pobres tem ganhado força nos programas da Rede Globo: a da visibilidade positiva da periferia, que acabou alcançado a telenovela com muito sucesso, como no caso de Avenida Brasil. Mas o seu principal produto é o programa dominical Esquenta, conduzido pela atriz Regina Casé, que se coloca como uma espécie de embaixadora da periferia recebendo amigos para uma roda de samba na TV. É então que vemos negros e mestiços aparecem na tela associados, não ao tema da violência, mas ao da festa.
A dualidade entre a visão do Brasil como lugar de festa e de violência é uma marca profunda da nossa experiência de brasileiros. Desde a criação do mito de que somos um lugar onde não existe racismo, na década de 1930, a cultura parece tentar juntar o que a sociedade separa, e a festa é esse momento de conjunção. Entretanto, em muitas ocasiões, somos obrigados a nos confrontar com a fragilidade dessa sutura. Em maio de 2014, a violência invadiu a festa do Esquenta quando Douglas Silva, um dançarino do programa, foi assassinado com um tiro nas costas durante uma operação policial em uma favela do Rio. O extermínio sistemático de jovens negros e pobres colocou-se como um fato incontornável e a edição seguinte do programa foi dedicada ao tema. Mas aí, o poder de atração da dualidade entre "vítima" e "bandido" foi mais forte, e o esforço foi dirigido a combater um discurso policial segundo o qual o dançarino tinha associação com o tráfico.
Para superar tais dualidades, é fundamental recolocar em pauta o problema da desigualdade brasileira, gritante sob um ponto de vista político, cultural e econômico, apesar da recente tendência de distribuição de renda. Ela reverbera tanto na forma da violência quanto da festa que busca a sua superação.
Maria Eduarda da Mota Rocha é doutora em Sociologia e professora adjunta da Universidade Federal de Pernambuco
EL PAIS; ESPANHA
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