Falta de tudo em Cuba, ate dinheiro: país vive escassez de notas em meio à pior crise econômica em décadas Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Lunes, 29 de Abril de 2024 11:46

Alejandro Fonseca ficou várias horas na fila do lado de fora de um banco em Havana, em Cuba, na esperança de sacar pesos cubanos em um caixa eletrônico. Quando estava quase na sua vez, no entanto, o dinheiro do caixa acabou.


Ele subiu com raiva em seu triciclo elétrico e viajou vários quilômetros até outra agência, onde finalmente conseguiu sacar algum dinheiro depois de desperdiçar a manhã inteira. “Não deveria ser tão difícil conseguir o dinheiro que você ganha trabalhando”, disse o jovem de 23 anos à Associated Press.

 

Fonseca faz parte de um número crescente de cubanos frustrados que têm de enfrentar mais um obstáculo enquanto navegam no já complicado sistema monetário da ilha: a falta de dinheiro.

Em Havana, longas filas começam a se formar desde as primeiras horas do dia em frente a bancos e caixas eletrônicos da capital Havana. Os moradores relatam que não conseguem encontrar notas de dinheiro o suficiente para pagar operações de rotina, como compra de alimentos básicos.

Por que falta dinheiro?

Especialistas dizem que há várias razões por trás da escassez, mas todas estão relacionadas com a profunda crise econômica que Cuba enfrenta, uma das piores em décadas.

Omar Everleny Pérez, economista cubano e professor universitário, diz que os principais culpados são:

Déficit fiscal crescente do governo;

  • Inexistência de notas superiores 1.000 pesos cubanos, que no mercado paralelo equivalem a cerca de US$ 3 (R$ 15);
  • Inflação elevada;
  • Retenção das notas de dinheiro por parte de empresários.

“Há dinheiro, sim, mas não nos bancos”, disse Pérez, acrescentando que a maior parte do dinheiro está na posse não de trabalhadores assalariados, mas de empresários e proprietários de pequenas e médias empresas que têm maior probabilidade de cobrar dinheiro proveniente de transações comerciais, mas estão relutantes em devolver o dinheiro aos bancos.

Isto ocorre, segundo Pérez, ou porque esses empresários não confiam nos bancos locais ou simplesmente porque precisam que os pesos cubanos sejam convertidos em moeda estrangeira.

A maioria dos empresários e proprietários de pequenos negócios em Cuba têm de importar quase tudo o que vendem ou pagar em moeda estrangeira pelos fornecimentos necessários ao funcionamento dos seus negócios.

Como consequência, muitos acabam acumulando pesos cubanos para depois trocá-los por moeda estrangeira no mercado informal. A conversão desses pesos cubanos para outras moedas representa ainda outro desafio, uma vez que existem várias taxas de câmbio altamente flutuantes na ilha.


Segundo dados oficiais, a inflação situou-se em 77% em 2021, depois caiu para 31% em 2023.

Mas, para o cubano médio, os números oficiais não refletem a realidade das suas vidas, uma vez que a inflação do mercado pode atingir até três dígitos na economia informal. Por exemplo, uma caixa de ovos, vendida por 300 pesos cubanos em 2019, hoje é vendida por cerca de 3.100 pesos.


Ao mesmo tempo, o salário mensal dos funcionários públicos cubanos varia entre 5.000 e 7.000 pesos cubanos, entre US$ 14 e 20 dólares (entre R$ 70 e R$ 100).


“Viver numa economia que, além de ter várias moedas, tem várias taxas de câmbio e uma inflação de três dígitos é bastante complicado”, disse Pavel Vidal, especialista em Cuba e professor da Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia.


G1 GLOBO

Última actualización el Miércoles, 08 de Mayo de 2024 18:22