Venezuela: Governo investe contra oposição enquanto Maduro pede "diálogo" Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Viernes, 21 de Marzo de 2014 09:07

O chavismo lançou nas últimas horas uma ofensiva judicial contra uma deputada e dois prefeitos da oposição, apesar dos contínuos apelos por diálogo feitos pelo presidente Nicolás Maduro, em meio aos protestos que sacodem a Venezuela há um mês e meio.

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O prefeito de San Cristóbal - capital do estado de Táchira e foco da onda de protestos que sacode a Venezuela - foi detido na quarta-feira pelo Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) por fomentar uma "rebelião civil" e instigar à violência, informou o ministro do Interior, Miguel Rodríguez.

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Rodríguez explicou que as detenções feitas na noite de quarta-feira de Daniel Ceballos, prefeito de San Cristóbal (estado de Táchira, oeste), e do prefeito de San Diego (Carabobo, norte), Enzo Scarano, aconteceram como parte de ações para evitar desordens públicas nos protestos. "Isto é um ato de justiça diante de um prefeito que não apenas deixou de cumprir as obrigações que a lei e a Constituição impõem, mas que facilitou e apoiou toda a violência irracional desencadeada na cidade de San Cristóbal", afirmou o ministro.

Rodríguez informou que ambos foram levados para a prisão militar de Ramo Verde, no subúrbio de Caracas, e que o prefeito de San Diego foi condenado a 10 meses de prisão e teve seus direitos políticos cassados.

Na terça-feira, a maioria chavista da Assembleia Nacional aprovou um pedido de investigação da Procuradoria contra a deputada opositora María Corina Machado, também acusada de promover a violência na onda de protestos.

Machado - que está em Washington para discursar no Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) a convite do Panamá - prometeu voltar à Venezuela neste final de semana, onde acredita que será presa. "Obviamente, como se diz em Caracas, o que me espera é a prisão (...). É o que têm ameaçado, mas sei bem quais são os meus direitos e os meus deveres (...). Devemos manter firme e claro nosso direito de protestar, de exercer o direito à dissidência".

Nesta quinta, Maduro ameaçou mais um líder da oposição, Ramón Muchacho, prefeito do município de Chacao, epicentro dos protestos em Caracas há mais de um mês. "Não vai tremer o pulso se (o Supremo Tribunal) nos derem ordem para detê-lo", advertiu Maduro, ao recordar os piquetes e pneus queimados no distrito do leste de Caracas.

A ofensiva contrasta com o apelo ao diálogo nacional que Maduro tem feito há várias semanas para a oposição, que condiciona sua participação ao cumprimento de uma série de condições pelo governo, entre elas a libertação das mais de 100 pessoas que permanecem detidas por episódios de violência ligados aos protestos.

O líder opositor Henrique Capriles acusou Maduro de colocar fogo na situação e disse que o presidente "será responsável pelo que acontecer no país".

Durante a tarde, grupos de manifestantes enfrentaram com pedradas efetivos do Batalhão de Choque, que responderam com gás lacrimogêneo, durante um protesto que reuniu cerca de 3 mil pessoas no município opositor de Baruta, no leste de Caracas.

Os manifestantes, estudantes universitários em sua maioria, começaram a se reunir por volta das 12h, exatamente para denunciar a ofensiva judicial contra os líderes opositores, no âmbito dos protestos que varrem a Venezuela há um mês e meio.

Protestos também foram registrados nesta quinta-feira em praças da cidade de San Diego e houve alguns confrontos entre policiais e manifestantes. Maduro acusa os líderes opositores de promoverem "um golpe de Estado" com os protestos contra a insegurança, a falta de produtos e a inflação. Em um mês e meio, 31 pessoas morreram nos protestos na Venezuela.

Daniel Ceballos foi o segundo dirigente da Vontade Popular a ser detido por promover a violência na onda de protestos contra o governo de Maduro, iniciada em San Cristóbal no dia 4 de fevereiro. Leopoldo López, principal liderança da Vontade Popular, está em uma prisão militar desde 18 de fevereiro, também por promover a violência ligada aos protestos. Rodríguez explicou que o Sebin realizará a "respectiva apresentação (de Ceballos) ao tribunal".

María Machado e Leopoldo López são os principais promotores da "Saída", a estratégia de ocupar as ruas da Venezuela para obter o fim do governo de Maduro. López, acusado inicialmente de homicídio e terrorismo, foi detido por ordem da procuradoria sob a acusação de "incêndio intencional, instigação pública, dano à propriedade pública e formação de quadrilha". Machado é acusada pelos deputados chavistas de "instigação ao crime, traição à pátria e homicídio".

A Venezuela vive desde o início de fevereiro um período de agitação social que já deixou 31 mortos e 400 feridos. As manifestações contra o governo de Maduro apontam diretamente para a inflação fora de controle, a falta de produtos básicos e a alta criminalidade no país.

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