Política de EUA com Cuba sinala uma próxima ronda de negociações. Serão levados em conta os interesses democráticos do povo cubano? Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Domingo, 24 de Agosto de 2014 17:09

É evidente que os interesses norte-americanos --por demais totalmente legítimos desde o ponto de vista de sua própria nação-- primarão nas conversações que se aproximam entre EUA y Cuba. A grande incógnita é se outros interesses norte-americanos, também comuns aos do povo de Cuba --como a eliminação do foco de anti-norte-americanismo que representa o castrismo dentro da ilha, ou o estabelecimento de um regime democrático a 90 milhas de suas costas, elegido por eleições livres e supervisadas, o que também significaria estabilidade dentro da ilha-- estaria na agenda das conversações que se aproximam.

A grande pergunta é: ¿devemos os cubanos aguardar pelo desenvolvimento dos acontecimentos, ou ser proativos nas propostas para sugerir hierarquizar uma sociedade democrática dentro de Cuba, tanto ante as instancias da União Europeia, como ante os governantes dos Estados Unidos?

 

 

O esgotamento do campo político cubano

Jorge Hernández Fonseca

22 de Agosto de 2014

A corajosa e beligerante carta que o opositor político cubano Jorge Luis García Pérez, “Antúnez”, direcionada ao Raúl Castro recentemente, veio para preencher um longo vazio no panorama da oposição política cubana, colocando no centro das discussões a validade da luta opositora como alternativa ao governo na ilha, quando a desaparição física dos irmãos Castro seja uma realidade, tenham encabeçado eles a atual transição ao capitalismo, ou não.

Já poucos acreditam que a solução do chamado “problema cubano” verá de uma deposição súbita da ditadura atualmente no poder, sendo que a solução biológica tem ocupado um primeiro plano, devido a certa inércia natural, por um lado e pela forma com que a ditadura tem-se defendido dos perigos associados ao cambio de regime por outro, no qual tem mostrado a eficiência da que tem carecido para levar o prato de comida prometido aos cubanos.

Tudo parece indicar que as já iniciadas conversações com a União Europeia --e as que pronto começarão com EUA-- marcarão o rumo que guiarão tíbios câmbios políticos dentro da ilha. A solução deixará nos lutadores democráticos cubanos um sabor amargo ao constatar que um novo “Tratado de Paris” está próximo, com poucas possibilidades de participar, sequer insinuando soluções associadas aos anseios democráticos, ante uma população cubana entediada e indiferente com o futuro do país pela indiferença e o desarraigo dos últimos 55 anos. Os culpados marcarão o ritmo das reformas possibilitando, isso sim, participar da “pinhata” toda solução capitalista que se agregue, sempre que não fale nada de política.

Nas altas esferas da ditadura cubana também se nota o esgotamento natural de mais de meio século de “batalhas” supostamente vitoriosas, mas, sem comida para o sofrido povo da ilha, cuja esperança se cifra na emigração a toda costa y a todo custo. Os serviços de inteligência cubanos, tanto dentro de Cuba como fora dela, continuam seu trabalho com razoável sucesso. Tem conseguido dividir as Damas de Branco; dos principais opositores cada vez se fala menos; inclusive no exílio de Miami todo transcorre numa longa espera ante o avance das missões culturais da ditadura, que tomam por assalto o último bastião declaradamente opositor.

Nas altas esferas norte-americanas nota-se igualmente o cansaço pelos anos de tensão, nos quais o poderoso do norte tem deixado à ditadura castrista “se cozer na sua própria salsa” dentro de uma sociedade cada vez más miserável econômica e socialmente, mas, com uma contrapartida política cada vez mais estendida em toda Latino-américa, onde tem encontrado padrinhos, financiamento, abrigo y muito eco político.

Nestes momentos é natural que EUA aspire a normalizar a situação “especial” das relações com Cuba, tendo constatado que, em primeiro lugar, o castrismo --enquanto perdia a guerra de guerrilhas em toda Latino-américa-- ganhava em paralelo a guerra civil cubana dos anos sessenta do século passado, que se estendeu até mediados dos anos setenta com um saldo de quase 10 mil cubanos fuzilado e centos de miles do melhor da juventude cubana condenada à longas penas de prisão. Que nos decênios seguintes, se bem continuou com a intervenção em Latino-américa, esta foi no plano civil, ajudando eleger presidentes pro-castristas em vários países da região, todo o qual chega ate nossos dias como um grupo importante de nações da órbita castrista que exercem pressão sobre EUA para a normalização com Havana.

Por outro lado, nota-se dentro de Estados Unidos uma tendência forte para hierarquizar a estabilidade dentro de Cuba, muito por cima da pura derrota da ditadura, por três razões que se conjugam: em primeiro lugar, o proceder da Cuba atual denota uma auto derrota da ideologia marxista de maneira expedita, deixando um remanente leninista de ditadura que somente afeita aos cubanos, os que podem/devem resolver a meio prazo; segundo, uma desestabilização política dentro da ilha, ou um vácuo do poder castrista atual, ocasionaria uma desagradável “estampida balseira”, o pior pesadelo para os governantes norte-americanos hoje por hoje, num pais que apenas tem saído de uma forte crise econômica; e terceiro, a oposição política cubana não tem podido (sabido, conseguido) posicionar-se como uma opção real de poder aos olhos dos EUA, com uma força tal que permita controlar a possível influencia narcotraficante que muito provavelmente caia sobre a ilha se houver um vácuo de poder associado a dissolução dos atuais corpos armados da ditadura, os que ate o momento tem garantido um status de convivência “aceitável” para Norte-américa.

É evidente que estes interesses norte-americanos --por demais totalmente legítimos desde o ponto de vista de sua própria nação-- primarão nas conversações que se aproximam. A grande incógnita para os cubanos democratas é se outros interesses norte-americanos, também comuns aos do povo de Cuba --como a eliminação do foco de anti-norte-americanismo que representa o castrismo dentro da ilha, ou o estabelecimento de um regime democrático a 90 milhas de suas costas, elegido por eleições livres e supervisadas, o que também significaria estabilidade dentro da ilha-- estaria na agenda das conversações que se aproximam.

A grande pergunta é: ¿devemos os cubanos aguardar pelo desenvolvimento dos acontecimentos, ou ser proativos nas propostas para sugerir hierarquizar uma sociedade democrática dentro de Cuba, tanto ante as instancias da União Europeia, como ante os governantes dos Estados Unidos?

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Última actualización el Miércoles, 27 de Agosto de 2014 12:33