Tiro de misericórdia: A un mês das eleicões presidenciais Brasil entrou em recessão Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Sábado, 30 de Agosto de 2014 10:51

Rio de Janeiro – A economia do Brasil não só parou, como andou para trás. Com dois trimestres seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB), o país entrou numa recessão técnica. A atividade econômica recuou 0,6% no segundo trimestre deste ano, divulgou nessa sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também revisou, de 0,2% para -0,2%, o desempenho do primeiro trimestre. Se o governo ainda vai avaliar o impacto dessa forte retração econômica nas urnas, entre os especialistas não há mais dúvida alguma: 2014 é um ano perdido.


As projeções de economistas e instituições financeiras foram todas revisadas, dos minguados 0,5% em média de crescimento do PIB no fim do ano para zero. Há quem fale até em números negativos. Se as previsões vão se confirmar ou não, os índices oficiais já apontam que o legado de Dilma Rousseff será um dos piores crescimentos da economia em períodos democráticos. Com uma média de 1,57% de expansão anual do PIB, ela ficará à frente apenas de Fernando Collor, afastado do poder por corrupção, e de Floriano Peixoto.

Ao apostar numa matriz econômica, com foco no consumo das famílias, que mostra desaceleração, com tímida evolução de 0,3% no segundo trimestre do ano, o governo recebeu a fatura. Os investimentos – postergados pelo poder público, sem caixa para realizá-los, e afastados do capital privado, pelo intervencionismo – puxaram o PIB para baixo. A Formação Bruta de Capital Fixo recuou 5,3% na comparação com o primeiro trimestre de 2014 e 11,2% em relação ao segundo trimestre de 2013.

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Para quem havia prometido aumentar a taxa de investimento de para 24% do PIB ao fim do seu mandato, Dilma terá que administrar um tombo brutal. A relação caiu de 19,2%, quando assumiu, para 16,5%. Um índice que encontra paralelo somente em 2009, durante a crise mundial. Aliás, vários números divulgados ontem pelo IBGE só foram piores naquele período. O próprio PIB não caía dois trimestres seguidos desde então. A diferença é que agora, em quatro trimestres, a economia do Brasil recuou em três deles.

Sem investimentos, a indústria acumula quatro quedas seguidas, desta vez de 1,5%. O comércio despencou 2,2% e os serviços caíram 0,5%, recuando pela primeira vez desde 2009. Até o consumo do governo encolheu 0,7%. E a agropecuária, que sempre salvou o PIB brasileiro, se manteve estável na comparação com o segundo trimestre do ano passado e teve uma alta insignificante alta de 0,2% na comparação do segundo com o primeiro trimestre deste ano.

Esforço Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a seca justifica o tropeço da agropecuária, a Copa do Mundo é responsável pelos recuos de indústria, comércio e serviços, e o ambiente externo é o grande culpado pela recessão do Brasil. Mantega esforçou-se ontem para mostrar que a situação da economia não é tão ruim quanto apontam as estatísticas. “Na minha opinião, não estamos em recessão”, disse ele, ao comentar a queda de 0,6% da atividade produtiva de abril a junho, sucessivamente a um recuo de 0,2% entre janeiro e março. “É meramente efeito estatístico pelo resultado negativo do segundo trimestre”, afirmou. “Recessão é quando você tem desemprego aumentando e renda caindo. Aqui temos o contrário.” Ele previu recuperação no terceiro trimestre. “O terceiro trimestre será positivo”, avaliou, acrescentando que espera “crescimento moderado” no período.

Apesar do esforço do governo, analistas discordam. “A demanda externa até ajudou. Senão o tombo seria maior. As exportações cresceram (2,8%), mas foi graças ao câmbio. E as importações caíram (2,1%) porque o investimento desabou”, avaliou Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, que já revisou sua expectativa de crescimento para o ano, de 0,5% para 0,2%.

Ajustes “Claramente, há muito mais acontecendo do que apenas um menor número de dias úteis durante a Copa do Mundo ou uma recuperação global menos robusta, como alegado pelo governo”, observou Tony Volpon, diretor de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da Nomura Securities, para quem 2015 precisa ser um ano de ajustes. “A intervenção em vários setores e a volatilidade política afastam os investimentos e o setor privado ainda precisa lidar com o risco político de um eventual segundo mandato de quem promete mais do mesmo”, alertou Volpon.

Na avaliação do diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, o resultado divulgado ontem pelo IBGE reforça o cenário de desaceleração da demanda doméstica, via redução do consumo do governo e dos investimentos e acomodação do consumo das famílias. “De todo modo, esperamos alguma reversão da queda acumulada no primeiro semestre de 2014 na segunda metade do ano”, afirmou, acrescentando que revisou a previsão de crescimento de 1% para 0,5% em 2014.

Sobram motivos de preocupação

Brasília – Endividadas e com medo de encarar o crédito mais caro e escasso, os brasileiros estão tendo de se contentar apenas em contemplar as vitrines. O freio no consumo das famílias atinge todas classes e reflete falhas na política econômica e o esgotamento de um modelo que, em 2009, ajudou a conter os efeitos da crise mundial. Apesar dos consumidores terem gasto quase R$ 800 bilhões, o indicador subiu apenas 0,3% no segundo trimestre, confirmando os temores de recessão técnica.

As prestações, até pouco tempo espremidas no orçamento doméstico, viraram dívidas e forçaram mudanças no hábito de compras. O endividamento das famílias segue batendo recorde desde o começo do ano. O valor total dos débitos já corresponde a 44,82% da renda do trabalhador nos últimos 12 meses, conforme o dado mais atualizado do Banco Central (BC).

O fato é que a recessão técnica sufoca o consumo. A alta dos juros e a inflação alta inibem o poder de compra do consumidor. "Desde o início de 2014, a principal dificuldade tem sido encaixar a prestação no orçamento", comenta o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes. A entidade calcula que os parcelamentos encareceram 9% de julho de 2013 sobre igual período deste ano.

No campo e nas fábricas

A agropecuária, setor cujo crescimento sempre ajudou a economia do Brasil, também perdeu força. A coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca de La Rocque Palis, explicou que a desaceleração ocorreu, em parte, porque a produção de soja, um dos carros-chefe das exportações, cresceu menos do que área plantada. “No caso do café, 2014 era para ser um ano bom, mas os investimentos foram menores em razão do preço internacional e a colheita recuou”, justificou. Dados do IBGE indicam que o setor registrou alta de só 0,2% no segundo trimestre em relação ao primeiro. No comparativo com igual período de 2013, o setor ficou estagnado (0%).

O desempenho negativo da indústria no último trimestre foi puxado principalmente pelos segmentos de construção civil e automotivo. Segundo Rebeca de La Rocque Palis, a construção civil teve a maior queda e já está demitindo. O recuo da indústria foi de 1,5% em relação aos primeiros três meses do ano, e de 3,4% quando comparado ao segundo trimestre de 2013. Nessa base de comparação, o resultado do segmento de transformação ficou negativo em 5,5%, o extrativista, 8%, e o da construção civil de 8,7. Assim como no caso dos investimentos, a queda da indústria foi a quarta seguida, na comparação trimestral.

Menos investimentos Os investimentos puxaram a queda do PIB, com retração de 5,3% no segundo trimestre de 2014 em relação ao trimestre anterior. Foi a quarta queda consecutiva. Em relação ao segundo trimestre do ano passado, a redução foi de 11,2%. Segundo Rebeca Palis, todos os componentes do investimento tiveram queda. “O peso da construção civil é de 42%, enquanto o de máquinas e equipamentos é de 52%. Os dois segmentos tiveram desempenho negativo, o que explica a queda na Formação Bruta de Capital Fixo”, disse ela. Com a retração, a taxa de investimentos da economia caiu para 16,5% do PIB, bem abaixo dos 18,1% do segundo trimestre de 2013, indicando que o a atividade deve continuar em ritmo lento.

EM.COM.BR

Última actualización el Lunes, 01 de Septiembre de 2014 12:43