Ex-diretor da Petrobras entrega políticos em delação premiada Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Domingo, 07 de Septiembre de 2014 01:51

Foto: Pedro Ladeira (Folhapress)

O ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, preso durante a Operação Lavajato, aceitou negociar com os procuradores da República que conduzem as investigações e entrou no programa de “delação premiada”. Se prosseguisse na condição de réu ele poderia ser condenado a uma pena próxima de 50 anos de reclusão. Preso em Curitiba, Paulinho, como é conhecido, aceitou revelar o que sabe em troca de uma redução de sua pena.

Para ter efeito jurídico a negociação precisa ser chancelada pelo ministro relator da investigão no Supremo Tribunal Federal, Teori Albino Zavascki, para onde o processo subiu em virtude da entrada em cena de parlamentares, que possuem prerrogativa de foro. Em mais de 42 horas de gravação, Paulo Roberto contou detalhes dos desvios que participou nos cofres da Petrobras que alcançam a astronômica cifra de R$ 10 bilhões.

EXPOENTES

Pelos relatos do ex-diretor, delegados e procuradores políticos expoentes do Senado, da Câmara, ministros e até um ex-governador faziam parte do esquema de recebimento de propinas. Empreiteiras contratadas pela Petrobras eram achacadas e tinham de pagar até 3% de propinas que depois de passarem por uma operação de lavagem de dinheiro chegavam aos seus destinos.

O que Paulo Roberto contou já provocava crises de insônia e acessos de desespero em políticos desde março, mas desde quinta-feira, quando o relato chegou a Brasília a agonia ganhou ares de hecatombe. Paulo Roberto enumerou políticos graúdos e até um morto – Eduardo Campos – como recebedores das propinas e poderá influenciar na campanha presidencial. Aliás, há dois meses o delator já avisara que se contasse o que sabia poderia até mesmo não haver eleições esse ano.

Conforme narrou para os investigadores, os destinatários dos bilhões em propinas passam por poderosos de primeiro time, como Renan Calheiros, presidente do Senado e Romero Jucá, senador do PMDB e uma das vozes mais influentes no Senado. Sem falar no secretário nacional de finanças do PT, João Vaccari Neto e no próprio Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney também tem seu nome citado como beneficiária do dinheiro sujo e esquentado que saiu da Petrobras.

Os nomes foram divulgados em primeira mão pela revista Veja, que circula nesse final de semana e já provocou altas tensões em Brasília. O staff mais comprometido com a reeleição da presidente Dilma Roussef já reconhece desgastes que a divulgação dos nomes poderá provocar desgastres na campanha petista.

Veja os nomes

  • Edison Lobão, ministro das Minas e Energia (PMDB)

  • João Vaccari Neto, secretário nacional de finanças do PT

  • Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados (PMDB)

  • Renan Calheiros, presidente do Senado (PMDB)

  • Ciro Nogueira, senador e presidente nacional do PP

  • Romero Jucá, senador (PMDB)

  • Cândido Vaccarezza, deputado federal (PT)

  • João Pizzolatti, deputado federal (PP)

  • Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades (PP)

  • Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro (PMDB)

  • Roseana Sarney, governadora do Maranhão (PMDB)

  • Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco (PSB) – morto no mês passado em um acidente aéreo

DM.COM.BR

 

Como a delação de Costa impacta a corrida eleitoral

As quatro últimas semanas antes do primeiro turno da eleição presidencial devem ser ainda mais movimentadas depois que Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, firmou um acordo de delação premiada. Conforme revelou VEJA nesta semana, ele citou os políticos beneficiados pelo esquema de corrupção na estatal em depoimento à Polícia Federal. A investigação sobre o escândalo da Petrobras pode alterar o panorama justamente quando a campanha entrava no momento de consolidação dos votos.

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Em acordos de delação premiada, o depoente se compromete a não omitir qualquer informação relevante de que dispuser. E precisa sustentar as acusações que faz. Disso depende o abatimento da pena a que ele será submetido.

Evidentemente, os políticos citados nominalmente por Costa como beneficiários do esquema devem ser os mais afetados: isso inclui o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), que disputa o governo do Rio Grande do Norte.

Mas a crise se coloca, sobretudo, no caminho da reeleição da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT. Paulo Roberto Costa foi nomeado para o cargo na Petrobras por Lula, em 2004, e ficou no cargo até 2012 – já no governo atual, portanto. Além disso, o tesoureiro do PT, João Vaccari, é citado pelo ex-diretor como uma das pessoas que captaram dinheiro no esquema. Praticamente todos os citados no escândalo são aliados da presidente.

A revelação de detalhes sobre os desvios em escala industrial pode atingir a popularidade de Dilma. Eles são a confirmação de que a crise na Petrobras não é fruto de acidente ou deslize, mas resultado de uma política consciente de loteamento de cargos-chave da administração da companhia.

Como Paulo Roberto Costa também mencionou o nome do ex-governador Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e candidato à presidência morto em 13 de agosto, entre os envolvidos no esquema, a campanha de Marina Silva pode ser afetada. No mínimo, a candidata do PSB deve ficar impossibilitada de explorar o caso eleitoralmente.

Ao tucano Aécio Neves, o episódio se desenha como uma oportunidade – talvez a última – de reagir nas pesquisas de intenção de voto. É nisso que os tucanos apostam agora.

Já na manhã deste sábado, os três candidatos demonstraram como pretendem lidar com o caso. Aécio Neves divulgou um vídeo em que chama o episódio de ‘mensalão 2’. Dilma adotou um discurso cauteloso: "Eu gostarei de saber direitinho quais são as informações prestadas nessas condições e te asseguro que tomarei as providências cabíveis", disse a candidata. Marina Silva tratou de se desvincular do episódio e deve deixar que o partido responda os questionamentos sobre o escândalo.

O professor João Paulo Peixoto, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, acredita que o PSDB pode se beneficiar das revelações. O caso, segundo ele, dá uma última esperança a Aécio de se consolidar como a alternativa mais viável que o PT e chegar ao segundo turno. "Eu tendo a acreditar que o PSDB vai crescer com a transformação das outras candidaturas em alvo", diz Peixoto. Entretanto, o professor avalia que ainda é cedo para avaliar se Aécio Neves pode ultrapassar uma de suas adversárias na corrida presidencial.

As últimas pesquisas mostram que Dilma Rousseff tem pouco mais de um terço do eleitorado. É aproximadamente o potencial de votos mínimo do PT em eleições presidenciais: são os petistas históricos, lulistas convictos e beneficiados pelo Bolsa Família – que dificilmente mudariam seu voto. Por isso, o eleitorado de Marina Silva se apresenta como o campo prioritário para as ofensivas de Aécio.

Nos próximos dias, portanto, conforme novos detalhes do escândalo surgirem e as informações se consolidarem na cabeça do eleitor, a turbulenta eleição de 2014 pode sofrer novas guinadas. "A instabilidade do quadro político brasileiro é evidente", diz o professor da UnB.

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