“Obama atraiçoou o conceito de democracia” ao fazer a paz com Cuba Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Lunes, 14 de Diciembre de 2015 12:30

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Guillermo Fariñas está com jet-lag. Vê-se que está cansado. Chegou a Lisboa na véspera, convidado pelo Parlamento Europeu, para dar uma conferência no Dia Internacional dos Direitos Humanos (11 de Dezembro) e falar do seu país, Cuba. A sala é pequena e não está completamente cheia, mas a conversa animou-se entre a plateia de pessoas com vontade de ouvir um testemunho, de curiosos por conhecer o Prémio Sakharov de 2010 (que o Parlamento Europeu atribui a quem luta pela liberdade de pensamento; este ano foi para o blogger saudita Raif Badawi) e de pessoas que queriam confrontar o orador que é anti-comunista e anti-castrista.

 

 

Fariñas, de 63 anos, é o coordenador do Foro Antitotalitário Unido, grupo da oposição cubana. Esteve preso 11 anos e fez 24 greves de fome pela liberdade política em Cuba e a libertação de presos políticos e de consciência. A greve de fome é a arma política pela qual é mais conhecido. “É o que chama mais a atenção, mas uso todos os métodos da luta não violenta”, disse na conferência em que ilustrou com casos reais as denúncias que fez.

Por exemplo, que o regime comunista confisca muitos negócios potencialmente prósperos para “impedir que surja uma verdadeira burguesia rural e urbana”. Ou que está em preparação uma nova lei eleitoral, mas ninguém sabe como será e por isso Fariñas não pôde dizer — como lhe pediu uma pessoa no público — se um dia gostava de ser Presidente de Cuba, que agora não é escolhido directamente pelo voto popular, mas por uma comissão parlamentar. Mais um exemplo: em Cuba há mais do que um partido, mas os grupos da oposição anti-castrista não podem concorrer a eleições.

A presença de Fariñas em Lisboa ocorre num período que é classificado de “histórico” — há um ano, e depois de terem passado mais de 50 anos como inimigos (e com Washington a tentar mudar o regime de Havana), os Estados Unidos e Cuba decidiram restabelecer as relações cortadas depois da Revolução cubana de 1959, que instaurou o regime comunista na ilha. Este momento histórico, protagonizado pelos Presidentes Barack Obama e Raúl Castro, já produziu mudanças — reabertura de embaixadas e flexibilização de viagens — e há outras anunciadas.

A vida dos cubanos vai melhorar, escreveram os analistas e os jornalistas depois do aperto de mão entre Obama e Raúl Castro. Fariñas não partilha dessa opinião. Acusa os EUA de não terem exigido nada em troca ao regime de Cuba onde, diz, há duas mudanças prioritárias por fazer, o “multipartidarismo e a libertação de todos os presos políticos e de consciência”.

Quando foi a Bruxelas receber o Prémio Sakharov [em 2013, só nesse ano foi autorizado a fazer a viagem], citou uma frase de Tomasi di Lampedusa em O Leopardo: “É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma”. Na sua perspectiva, é isso que as negociações com os Estados Unidos estão a produzir em Cuba?
Cuba está igual, mas pior. É importante que se tenha essa visão e eu gosto de falar de forma gráfica: a partir de Dezembro de 2014, o Governo cubano aumentou o número de detenções [de opositores], aumentou o número de ameaças de morte, aumentou o número de actos que repúdio. O Governo cubano sente-se corroborado pelo Governo dos Estados Unidos e, na medida do possível, está a tratar de fazer desaparecer a oposição. As pessoas percebem que a repressão aumentou de forma desproporcionada. Além de haver um aumento da repressão, há um aumento na escassez de bens. As lojas não têm produtos alimentares e outros e estamos, neste momento, a passar por uma grave crise migratória e humanitária. Até 30 de Novembro entraram nos Estados Unidos 58 mil cubanos, 20 mil deles foram por terem relação familiar [com alguém que já vivia nos EUA], ao abrigo de um acordo que existe. Mas também há muita gente a fugir.

Ainda há muita gente que quer fugir de Cuba?
As pessoas vão-se embora de Cuba porque não têm liberdade política, social, económica. Há muita gente a fugir por medo de perder os direitos da Lei de Ajuste [que estabelece que os cubanos que cheguem a território dos EUA podem ficar no país na situação de imigrantes legais]. Neste momento, há milhares de cubanos que fugiram do país mas estão retidas noutros, onde foram interceptados. Há quatro mil na Costa Rica, três mil no Panamá, mil na Colômbia, mil no equador, 27 mil no México.

PUBLICO.PT

Última actualización el Jueves, 17 de Diciembre de 2015 13:19