Inelegível, líder oposicionista defende eleições como saída para crise na Venezuela |
Escrito por Indicado en la materia |
Domingo, 30 de Abril de 2017 11:31 |
Para encontrar Henrique Capriles, um dos principais líderes de oposição na Venezuela, é preciso passar pelo olhar suspeito de guarda-costas armados e se espremer para atravessar a grade que guarda o edifício em que fica seu escritório. Uma imagem que ilustra o clima permamente de tensão que vive o país. O ex-candidato presidencial, recentemente tornado inelegível para cargos públicos por 15 anos, defende a luta nas ruas como meio de pressionar o governo do presidente Nicolás Maduro, a quem responsabilidade pelo grave crise política e econômica em que vive o país.
Capriles quer a realização de eleições. Em 2013, ele teve uma derrota apertada para Maduro no pleito presidencial (a diferença foi de menos de 2% dos votos válidos). O candidato da oposição se recusou a contestar o resultado nas ruas. "Havia condições para que o país iniciasse um processo de guerra civil. Agora, não há", afirma Capriles em entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC. Para Capriles, os cenários são distintos porque o governo hoje conta com muito menos apoio popular, além do fato de que a oposição triunfou nas eleições parlamentares de 2015. Outro fator, segundo o líder oposicionista, é a piora da situação econômica da Venezuela nos últimos anos e que deixou o país em uma situação de inflação alta e escassez de alimentos e medicamentos. Quase 30 pessoas, segundo as autoridades, morreram nos protestos que há quase um mês ocorrem nas ruas venezuelanas - as manifestações foram motivas pela decisão do Tribunal Superior de Justiça de retirar poderes do Legislativo. A BBC Mundo conversou com Capriles sobre os protestos e as possíveis soluções. Como essa crise pode ser contornada? Henrique Capriles - Com eleições livres e democráticas, não há outro jeito. Temos cinco reivindicações e nenhuma está fora da Constituição: eleições, ajuda humanitária para o fornecimento de remédios e alimentos, libertação de presos políticos e que cesse a prática de tornar candidatos inelegíveis. Por último, queremos o desarmamento das milícias. BBC - O senhor admite uma saída negociada para evitar cenários mais dramáticos? Capriles - A Constituição é a base para qualquer processo de negociação. A política é a arte dos acordos, mas para que haja política é preciso haver vontade. Logicamente, em uma crise como a que vivemos, os venezuelanos e o mundo esperam um acordo. Mas a base é a Constituição. Não estamos pedindo nada fora da Constituição. BBC - Há conversas com o governo? Capriles - Não, todos os sinais dados pelo governo são negativos. BBC - Estão à espera de um gesto da oposição? Capriles - Não é um leilão. Há cinco reivindicações muito claras e firmes. Não somos obtusos ou incapazes de dialogar. O povo venezuelano é pacífico e privilegia o diálogo, mas as conversas intermediadas pelo (ex-premiê espanhol) José Luis Zapatero foram uma fraude. Até do papa Francisco se aproveitaram. Um espaço de mediação e diálogo deve ser radicalmente distinto. BBC - O que se obtém com os protestos nas ruas? Capriles - É um meio de fazer pressão. Protestar é um direito constitucional, não é um delito. BBC - Quanto tempo eles vão durar? Capriles - Não sei dizer. Nada disso estaria ocorrendo se estivessem dado uma janela democrática para os venezuelanos. BBC - Se houvesse eleições agora, dois dos principais líderes, Leopoldo López (preso) e o senhor (inelegível), não poderiam concorrer. A oposição aceitaria esse cenário? Capriles - Quando falamos de eleições livres e democráticas, isso é sem presos políticos e sem inelegíveis. Que seja o povo a decidir. Caso nem eu nem Leopoldo pudéssemos concorrer, sem dúvida alguma estaríamos do lado dos que querem mudar a Venezuela. Que seja o líder eleito pelo povo da Venezuela, não o que Maduro queira. BBC - Mas sem Lopez e o senhor a oposição não fica desvalorizada? Capriles - Sim, mas minha obsessão não é a Presidência. Minha obsessão é que a Venezuela mude. O tempo vai abrir as portas que ainda tenha de abrir. BBC - Como reconciliar as "duas Venezuelas"? Capriles - Não teremos um tempo de vingança. Minhas acusações nunca são contra o povo. Minha mentalidade não é a de Maduro, não creio em sectarismo. Não é um confronto entre povo e povo, isso acabou na Venezuela. Maduro insiste na divisão. Queremos um governo de unidade nacional. BBC - Diga-nos três coisas que mudaria se fosse presidente. Capriles - Comida, remédios e segurança. Quando mudar o governo, se abrirão uma infinidade de possibilidades. Um governo que gere confiança aqui começará a gerar investimentos. BBC - O chavismo é algo que estará para sempre na Venezuela? Capriles - O chavismo era (o ex-presidente Hugo) Chávez. O que muda são as diferenças de liderança, quem dá ênfase ao que. Para mim, não há futuro se todos os esforços não são orientados a combater a pobreza. Estou consciente da realidade social do meu país. O que esperam os que votavam pelo chavismo? Que haja mudanças na Venezuela. BBC - A oposição está disposta a fazer vista grossa para algumas das acusações contra membros do governo para facilitar uma mudança? Capriles - Isso soa muito mal, como se fôssemos cúmplices. Na Venezuela, as condições de transição têm que ser debatidas com o país. Estamos conscientes de que, para que as transições sejam eficazes, ambas as partes devem fazer concessões, mas isso depende mais do governo do que de nós. G1 GLOBO
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Última actualización el Jueves, 04 de Mayo de 2017 10:39 |