Apreta-se o cerco a Venezuela Por Antonio Freitas de Sousa Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Lunes, 03 de Julio de 2017 12:08

Os confrontos nas ruas das principais cidades da Venezuela estão ao chegar ao centésimo dia – e durante o fim-de-semana já chegaram ao octogésimo morto – e as posições das duas partes em litígio estão a extremar-se.


O governo de Nicolás Maduro – que a oposição acusa de continuar a patrocinar milícias armadas, responsáveis pela maioria das mortes – não desarma da criação de uma alternativa à assembleia nacional (liderada pela oposição do MUD) riscada do mapa político. Ao mesmo tempo, a oposição recusa a alternativa da constituinte e ganhou uma aliada de peso: a procuradora-geral da Venezuela, Luísa Ortega Díaz, perseguida pelo regime e que está a emergir como uma das faces do futuro da fase pós-Maduro, que muitos acreditam estar próxima.

 

A perseguição à procuradora-geral já mereceu o repúdio da ONU, mas o confronto entre Díaz e Maduro tem novos episódios marcados para esta semana: a Justiça quer ouvir dois destacados militares por suspeitas de crimes contra a humanidade, mas o governo acaba de os elevar a novos cargos – um deles é agora uma espécie de chefe do Estado Maior das Forças Armadas.

Nicolás Maduro pode esperar uma semana dura também na frente internacional. No seio da Organização dos Estados Americanos (ONU), o grupo de países que têm vindo a exigir uma forte reprimenda institucional ao regime venezuelano (liderados pela Argentina e o México, com o forte apoio dos Estados Unidos) não tem conseguido fazer valer a sua vontade, mas o grupo contrário, dos países que apoiam Maduro, está a tornar-se cada vez mais pequeno. Os analistas acham que falta pouco para que o grupo contrário a Maduro consiga reunir votos suficientes na OEA para fazerem aprovar o protesto da organização face àquilo que consideram ser intoleráveis atropelos à democracia e à própria Constituição do país.

É que o grupo que tem conseguido manter a Venezuela livre da resolução da OEA tem-se esforçado com muito pouco sucesso em tentar a via diplomática para convencer Maduro de que o país não pode continuar como nos últimos três meses. Isto é, a paciência ‘dos amigos’ está a esgotar-se, face à absoluta incapacidade do regime em dialogar com a oposição e em normalizar o dia-a-dia dos venezuelanos.

Quando a OEA conseguir ultrapassar este ‘travão’, a Venezuela ficará numa situação diplomática difícil. O presidente do país chegou a dizer que, se esse dia chegar, a Venezuela pedirá a saída da OEA. Mas, sucedendo isso ou não, o certo é que Maduro terá que fazer a leitura política da situação, que será só uma: o regime chavista deixou de ter apoios internacionais que lhe permitam continuar a impor a sua vontade no interior das suas fronteiras da forma que tem feito até aqui.

O fim do apoio externo quererá também dizer que a já agora muito difícil situação económica do país tenderá a piorar ainda mais – o que irá transformar a vida dos venezuelanos num pesadelo de procura incessante de bens essenciais. Nenhum país consegue manter-se nestes níveis por muito tempo, dizem os analistas. Que também convergem noutro ponto: é possível que a situação desemboque no aumento exponencial e imprevisível da violência que neste momento já tomou conta das ruas.

JORNAL ECONOMICO

Última actualización el Jueves, 06 de Julio de 2017 12:33