Brasil: Nove dias de greve, bilhões de reais em prejuízo e más notícias para o PIB Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Miércoles, 30 de Mayo de 2018 06:12

Nem todos os caminhoneiros voltaram ao trabalho após uma semana de paralisações pelo país, mas os prejuízos causados pelos bloqueios nas estradas já estão bem evidentes para dezenas de setores. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), por exemplo, calcula em até 10 bilhões de reais os impactos para a cadeia produtiva de pecuária de corte.

Frentista enche o tanque de carro em posto de combustível em Brasília.

Das 109 plantas de produção de carne do país, 107 pararam, e as duas que funcionam operam com menos de 50% da capacidade. Já a Confederação Nacional de Dirigentes Logistas (CNDL) estima perdas de 27 bilhões de reais e já enxerga impactos para o crescimento do PIB do país no ano — mais próximo dos 2% do que dos 2,5% previstos pelo Governo recentemente.

 

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) calculou prejuízo de 2,9 bilhões de reais com obras paradas por falta de concreto e divulgou uma nota para pedir que outros setores não parem. "Não é hora para movimentos oportunistas. Novas paralisações, neste momento, são inaceitáveis. Cada um precisa assumir a sua parte de responsabilidade para superar essa situação. A prioridade deve ser o reabastecimento imediato e aceleração da discussão sobre os problemas estruturais do país, tais como revisão do papel da Petrobras, revisão tributária, reavaliação da matriz de transporte e investimento em infraestrutura", diz a nota.

O Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) estimou em 32,5 bilhões de reais o impacto total dos nove dias da crise dos combustíveis para a economia nacional. A ausência de atividade econômica durante esses dias teria resultado na perda de 4,7 bilhões de reais em arrecadação de impostos para a União e para as administrações estaduais e municipais. “A arrecadação tributária sobre os combustíveis é muito alta. O conjunto de produtos gasolina, diesel e álcool representa 5% da arrecadação total do país”, diz Gilberto Luiz do Amaral, coordenador de estudos do IBPT, que calcula em 110 bilhões de reais a quantidade de impostos que deve ser arrecada pelo país por meio da taxação dos combustíveis neste ano.

Petrobras

Afetada diretamente pela crise, a Petrobras voltou a respirar nesta terça-feira. Depois de uma sequência de quedas que derrubaram em um terço (cerca de 120 bilhões de reais) o seu valor de mercado, as ações da petroleira voltaram a subir (14%), puxando para cima também o índice Ibovespa, que fechou em alta de 0,95%. A empresa, aliás, já dirigiu nesta terça seus esforços para enfrentar a greve dos petroleiros, agendada para a quarta-feira, prevista para durar inicialmente 72 horas. Junto com a Advocacia-Geral da União (AGU), a Petrobras pediu uma liminar ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) para tentar impedir a greve — e obteve sucesso.

Segundo o pedido de liminar, as reivindicações dos sindicatos — entre elas a demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente — não são de natureza trabalhista, mas político-ideológica. A estatal calcula que uma greve no setor custaria por dia 349 milhões de reais. Os petroleiros planejam paralisar as atividades durante 72 horas, mas a ministra Maria de Assis Calsing decidiu que eles terão de pagar multa diária de 500.000 reais se pararem. "É potencialmente grave o dano que eventual greve da categoria dos petroleiros irá causar à população brasileira, por resultar na continuidade dos efeitos danosos causados com a paralisação dos caminhoneiros", escreveu a ministra em sua decisão, acrescentando que "beira ao oportunismo a greve anunciada".

Pedro Parente falou para analistas pela segunda vez em menos de uma semana nesta terça para dizer que "a mudança de periodicidade mensal para diária [nos reajustes do combustível] não foi escolha caprichosa". "Foi fundamental para que pudéssemos escolher entre margem e market share [participação de mercado]", segundo ele. "O Governo sempre ressaltou que não estava demandando mudança nas questões essenciais da política de preços. No entanto, não é segredo para ninguém que essa é uma empresa de controle e estatal e que eleições têm enorme influência", admitiu.

Os aeroportos também vão tentando normalizar a situação do tráfego aéreo no país. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) registrou "mais de 270 voos cancelados" durante a semana de paralisação dos caminhoneiros. "É estimado um prejuízo diário de mais de R$ 50 milhões, que envolve cancelamentos, pousos técnicos para reabastecimentos, no shows [passageiros que não apareceram para embarcar] e atendimento a passageiros que deixaram de embarcar", informa a associação em nota.

Enquanto a crise parece se encaminhar para o final, fica claro também que os problemas do Governo estão longe de acabar. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota para criticar a forma como o Palácio do Planalto pretende compensar os subsídios concedidos aos caminhoneiros. Na mensagem, a CNI "lamenta a postura do ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, que, em entrevista, admitiu a intenção do governo federal de aumentar impostos para cobrir o rombo decorrente do subsídio ao óleo diesel incluído no acordo com caminhoneiros". Para a CNI, "o caminho para o Brasil sair da crise passa por se criar as condições necessárias para o país voltar a crescer" e isso envolve uma aposta" na redução de impostos para fomentar a economia, atrair investimentos e gerar mais empregos".

EL PAIS; ESPANHA

Última actualización el Sábado, 02 de Junio de 2018 06:18