Êxodo da Venezuela e Nicarágua provoca surtos xenófobos na região Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Lunes, 20 de Agosto de 2018 12:51

A chegada aos países vizinhos de milhares de venezuelanos e nicaraguenses que fogem da crise nos seus países deu origem aos primeiros surtos de xenofobia e está exacerbando as tensões regionais.

venezuela

O Brasil enviará tropas para a fronteira com a Venezuela após a violenta expulsão dos venezuelanos de uma cidade no Estado de Roraima. O Equador limita a entrada desde este fim de semana, medida que o Peru aplicará no sábado, em razão da chegada, na semana passada, de 20 mil venezuelanos. Na Costa Rica, um protesto xenófobo contra a presença de nicaraguenses levou centenas de pessoas às ruas neste sábado, algumas com suásticas. A ONU estima que 2,3 milhões de venezuelanos fugiram de seu país.

 

Centenas de milhares de venezuelanos cruzaram as fronteiras terrestres para o Brasil e a Colômbia nos últimos meses para tentar escapar da crise econômica, política e social que seu país está vivenciando. A Colômbia deu residência temporária para mais de 800.000. Centenas empreendem uma trajetória terrestre todos os dias para chegar ao Peru, Chile, Argentina e até ao Uruguai. O Peru, que há dois anos concede a eles uma permissão de trabalho temporário, estima que quase 400 mil venezuelanos se estabeleceram em seu território no período de um ano. O pico foi em 11 de agosto, quando em um único dia entraram 5.100.

No Equador, segundo o Ministério do Interior, pelo menos um milhão de venezuelanos cruzou a fronteira, embora os que permanecem no país sejam cerca de 250 mil. Confrontado com as críticas, o Governo eliminou a exigência de passaporte para a entrada de crianças e adolescentes venezuelanos desde que cheguem acompanhados por seus pais ou responsáveis que portem esse documento. As restrições administrativas tiveram efeito imediato e no sábado houve pouco influxo de venezuelanos na fronteira entre Equador e Colômbia, quando entrou em vigor a exigência de apresentação do passaporte. "Não há mais venezuelanos esperando em Rumichaca", informou a televisão equatoriana Teleamazonas, referindo-se à fronteira entre Equador e Colômbia.

Enquanto isso, a crise iniciada na Nicarágua desde meados de abril —uma onda de protestos antigovernamentais duramente reprimidos pelas forças de segurança e grupos armados ligados ao regime— provocou o êxodo de milhares de nicaraguenses, a maioria dos quais se refugiou na Costa Rica. Não há dados oficiais sobre o número real de chegadas porque muitos deles entram por veredas, como são chamadas as passagens informais no limite entre os dois países, mas nas áreas fronteiriças sua presença é cada vez mais visível.

A pressão migratória dos venezuelanos e nicaraguenses em países em delicado equilíbrio devido à crise econômica e ao aumento da criminalidade está causando uma situação muito complexa do ponto de vista da segurança. A cidade de Pacaraima, no Estado de Roraima (fronteira com a Venezuela), tornou-se uma bomba-relógio. A cidade, com 16.000 habitantes, é a porta de entrada dos venezuelanos que fogem do regime de Nicolás Maduro. Nos últimos meses, mais de 40.000 venezuelanos chegaram, e muitos deles —mil, segundo diferentes fontes— estão alojados em barracas espalhadas pela cidade. No sábado, depois que um comerciante local foi assaltado e agredido por quatro venezuelanos, segundo a versão da polícia local, a população reagiu com um protesto contra os imigrantes presentes na cidade. Os manifestantes destruíram suas barracas, queimaram seus pertences e atacaram os venezuelanos com pedras e dispositivos incendiários artesanais. Os vídeos dos incidentes publicados nas redes sociais mostram o nível de tensão geral. "Não aguentamos mais esses bandidos que estão roubando nossas casas e molestando nossas mulheres", gritou um homem em uma gravação. Em outro vídeo é possível ver várias pessoas jogando gasolina nas barracas de venezuelanos com o grito de "Vamos colocar fogo neles". Pelo menos 1.200 venezuelanos deixaram o Brasil nas últimas horas após os incidentes de Pacaraima.

Depois de uma reunião neste domingo, o Governo brasileiro determinou o reforço da Força Nacional em Roraima com mais 120 homens, a "intensificação dos esforços de interiorização dos venezuelanos para outros Estados", a criação de um "abrigo de transição entre Boa Vista e Pacaraima" para atendimento humanitário dos migrantes que aguardam o processo de interiorização,o envio de mais voluntários de saúde à região e o deslocamento de uma comissão interministerial para avaliar medidas complementares. Em nota, o Governo Federal afirma que "está comprometido com a proteção da integridade de brasileiros e venezuelanos" e que o Itamaraty está em contato com as autoridades venezuelanas.

Transferência para outras cidades

Antes aberta à chegada dos venezuelanos que costumavam atravessar a fronteira para comprar em suas lojas, Pacaraima está agora assustada com o fluxo migratório crescente do país vizinho. Parte dos venezuelanos procura oportunidades de trabalho lá e outros continuam viagem para Boa Vista, a capital de Roraima, a 200 km de distância. Em fevereiro, o presidente Michel Temeradmitiu a vulnerabilidade dos estrangeiros e anunciou medidas de ajuda, além de propor levá-los a outras cidades do Estado e a outros Estados, como São Paulo, a 3.500 quilômetros de Roraima. As boas intenções, no entanto, parecem ter caído no esquecimento, de acordo com Camila Astano, da ONG Conectas Direitos Humanos ONG. "O Governo prometeu transferir 18.000 venezuelanos para outras cidades e até agora só removeu 800", diz Astano, para quem os eventos em Pacaraima evidenciam que a fraca resposta das autoridades está alimentando a xenofobia e a tensão entre os moradores locais.

A dois meses das eleições que renovarão a Presidência e o Congresso, a crise com os venezuelanos pode acabar sendo usada politicamente. "Alguns candidatos defenderam o fechamento da fronteira com a Venezuela, o que é algo inconstitucional", denuncia Astano. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também alertou para o risco de novos incidentes. "É claro que o problema é agravado pela ineficácia das autoridades. O que era uma questão humanitária agora tem uma forte conotação de segurança ", disse Claudio Lamachia, presidente da OAB.

EL PAIS; ESPANHA

Última actualización el Jueves, 23 de Agosto de 2018 12:57