Crescimento de Lula e filiação de Bolsonaro ao PL afetam disputas por governos |
Escrito por Indicado en la materia |
Domingo, 02 de Enero de 2022 13:52 |
O crescimento nas pesquisas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a filiação de Jair Bolsonaro ao PL geraram mudanças na corrida por governos estaduais em 2022. Apesar da polarização nacional, questões regionais continuam a se impor e devem gerar alianças curiosas, como o apoio petista a um candidato do PDT de Ciro Gomes no Ceará e uma frente que reunirá Bolsonaro e Sergio Moro (Podemos) em torno da reeleição do governador Ratinho Junior (PSD), do Paraná. Fortalecidos pela ascensão do ex-presidente, petistas passaram a jogar mais duro com aliados como PSB; por conta da entrada do presidente, o PL começou a investir mais em disputas regionais e a ampliar para fora do Congresso a aliança com outros partidos do Centrão, em especial Republicanos e Progressistas (PP).
Parceiros do PT em muitas eleições, integrantes do PSB estão irritados com a insistência do partido de Lula em manter a candidatura do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad ao governo de São Paulo. Os socialistas querem o apoio petista a Márcio França, até como contrapartida a uma união nacional em torno do ex-presidente (o que incluiria a aceitação, pelo PSB, da eventual filiação do ex-governador Geraldo Alckmin, que seria o vice de Lula). Para piorar, numa reunião no último dia 20 entre dirigentes e lideranças dos dois partidos, entre eles Lula, o PT apresentou a candidatura do senador Humberto Costa ao governo de Pernambuco, estado hoje administrado pelo PSB. “O PT tem que decidir se quer a Presidência ou os governos dos estados”, avisa o presidente do PSB, Carlos Siqueira. Ele afirma que, apesar do atual favoritismo de Lula, o PT “não pode se sentar na cadeira de presidente antes da eleição”. Ele não descarta a possibilidade de seu partido apoiar Lula apenas de maneira informal. Siqueira ressalta também que seu partido havia se comprometido a apoiar candidatos petistas em cinco estados – Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí. Um deputado socialista que pediu para não ser identificado fala em “hegemonismo” do PT, lógica que, para ele, compromete o projeto de formação de uma federação entre os dois partidos e o PCdoB (com a federação, as legendas teriam que se unir nacionalmente por pelo menos quatro anos e seriam obrigadas a lançar apenas um candidato aos governos). Presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann diz estar interessada em fechar acordos com o PSB, mas ressalta o tamanho e a importância de seu partido. Segundo ela, “será difícil o PT abrir mão do Haddad”. A deputada demonstrou mais flexibilidade em relação ao caso de Pernambuco – destacou que o PSB ainda não apresentou um pré-candidato ao governo, o que abre caminho para outras opções, mas ressaltou que os petistas não vão “fazer guerra por lá”. Ela afirma que o PT deverá apoiar candidatos do PSB em estados como Espírito Santo (o atual governador Renato Casagrande) e Rio de Janeiro (o deputado federal Marcelo Freixo). No Rio há ponto de desgaste com o PSB, que quer lançar o deputado federal Alessandro Molon ao Senado, enquanto os petistas insistem em André Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa. Outro ponto que poderá complicar a eleição fluminense é a eventual candidatura ao governo do prefeito carioca, Eduardo Paes (PSD). Ele tem repetido que não disputará a eleição e que seu candidato é o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, mas ninguém no mundo político afasta a possibilidade de Paes tentar de novo o posto (foi derrotado em 2018 por Wilson Witzel). Entre petistas há quase um consenso que Lula não deixaria de apoiá-lo – poderia até dividir suas bênçãos entre Freixo e o prefeito, mas insistiria em pegar carona no perfil moderado de Paes. O PT pretende lançar candidatos próprios nos estados que hoje governa, com a provável exceção do Ceará, onde, por conta de acordos anteriores, deverá apoiar um nome do PDT e articula acordos com outros partidos de esquerda em estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul – no Paraná, deverá apoiar o ex-senador e ex-governador Roberto Requião, que tem convites para se filiar ao PT e ao PSB. A possibilidade de retorno de Lula ao Palácio do Planalto fortalece a posição do PT nas alianças regionais, mas abre uma outra possiblidade de negociação. Interessado em ter uma base sólida no Congresso, o ex-presidente disse a vários aliados que prefere ter um senador do que alguns governadores. Ele alega que governadores vão precisar do presidente, mas este vai necessitar muito dos senadores. PL nos estadosA filiação de Jair Bolsonaro levou, em tese, o PL para uma posição de radical de direita e mudou o perfil de sua atuação na disputa de cargos executivos. Como outros partidos do Centrão, o PL priorizava eleger deputados e senadores que, depois, negociavam seu apoio ao presidente e a governadores. Agora, o partido fala em lançar candidatos em até oito estados e em priorizar alianças regionais com dois outros partidos da base governista no Congresso, o Progressista e o Republicanos. Tudo em torno do presidente da República. “Haverá um alinhamento político total com Bolsonaro”, diz o deputado federal Altineu Côrtes (RJ). Entre outros candidatos a governos, o PL pretende lançar dois ministros do governo federal – Onyx Lorenzoni (Rio Grande do Sul) e Tarcísio Gomes de Freitas (São Paulo) – além do senador Jorginho Mello (SC). Filiado ao PL desde maio, o governador do Rio, Cláudio Castro, tentará se manter na cadeira que herdou de Wilson Witzel, que sofreu impeachment. Assim que assumiu o Palácio Guanabara, Castro tratou de se aproximar de Bolsonaro, mas a relação, hoje, não é assim tão próxima – o governo fluminense anunciou que não exigirá prescrição médica para vacinas crianças contra a covid. “Há pontos de vista do governador que são diferentes dos do presidente, mas a adesão política é absoluta”, minimiza Cortês. A chapa majoritária terá ainda o senador Romário: eleito pelo PSB, o ex-jogador migrou para o PL e acabou sendo aceito por Bolsonaro. Apesar da proximidade com o PL forjada pelo apoio do Centrão ao presidente, o PP não deverá seguir à risca a cartilha ditada por Bolsonaro. Na Bahia será mantida a aliança com o PT, que governa o estado (o vice-governador, João Leão, é do PP). Também filiado ao partido, o senador Luis Carlos Heinze, que se destacou na CPI da Pandemia por sua defesa da cloroquina, deverá disputar o governo gaúcho. “Se o Bolsonaro tivesse vindo para o partido haveria uma adesão absoluta a ele. Como não veio, vamos respeitar as questões regionais”, disse à CNN um deputado federal do PP. Em alguns estados, como São Paulo, o PP vende caro seu apoio ao PL. De olho na formação de uma forte bancada na Câmara dos Deputados, negocia a filiação de puxadores de votos, como Eduardo Bolsonaro ou Carla Zambelli – ambos deveriam seguir o presidente para seu novo partido.
CNN BRASIL |
Última actualización el Miércoles, 05 de Enero de 2022 13:09 |